Alavancado por um momento em que a incerteza do mercado sobre a política econômica brasileira se junta à elevação dos juros praticados pelos Estados Unidos, desde setembro o dólar deu um salto de preço, valorizando 12,5% em relação ao real. O valor para compra da moeda saiu de um patamar de R$ 2,20 para R$ 2,60. Apesar de refletir uma situação ruim para a economia brasileira, o dólar valorizado ajude exportadores a retomar contratos no exterior.
O problema é a atual taxa cambial só virá a surtir efeitos em três a seis meses, já que os contratos de exportação são geralmente de médio e longo prazos. Além disso, retomar mercados perdidos nos últimos anos é um processo lento, que depende de novas negociações. Isso ajuda a explicar por que, em outubro, a balança comercial brasileira fechou com exportações 20% abaixo do mesmo mês de 2013 um total embarcado de US$ 18,3 bilhões.
A opinião mais recorrente do setor é de que, se o real valorizado derruba a competitividade de produtos brasileiros, a variação acentuada do câmbio também não ajuda. "O câmbio deveria ser uma taxa mais estável e não ficar oscilando. Isso prejudica o planejamento das empresas, diz Fabio Faria, vice-presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), que representa empresas. "Na indústria, tudo está problemático, os preços subiram muito e o Brasil perdeu competividade. Retomar mercado demora, não é de um dia para o outro". Ele cita que exportadores têm dúvidas sobre a rentabilidade futura, já que outros custos também devem subir.
Ainda assim, a variação permitiu que exportadoras firmassem contratos que se mostraram inviáveis no fim de novembro de 2013, por exemplo, quando o câmbio estava em R$ 2,25. Ou seja, empresas que já vendem para fora ganharam mais abertura para negociar com clientes conhecidos. "Isso agrada aos exportadores. Esse patamar [R$ 2,60] deve ir até o fim do ano e a previsão do Banco Central é fechar 2015 em, no máximo, R$ 2,70", diz o empresário Rommel Barion, que coordena o Conselho de Negócios Internacionais da Federação das Indústrias do Paraná (Fiep).
Ganhos
Dono de uma fábrica alimentícia em Colombo, na Grande Curitiba, Barion reconhece que as vendas para o exterior aumentaram. Um recente contrato, para a Mauritânia, diz respeito a uma negociação que foi suspensa em 2013 porque a caixa do produto saia por US$ 27. Agora, que está US$ 24, o negócio foi fechado. "Há, sim, um ganho de competitividade, ainda que só pelo câmbio, não no custo geral da operação", avalia.
Outro pé atrás do setor é sobre as condições em que o dólar se valorizou. Principal responsável, o impacto da política monetária dos EUA deve chegar a outros países com que os produtos brasileiros competem. "O efeito [ganho no preço] é imediato em mercados dolarizados, mas empresas têm que ajustar preços pensando nos outros países com que disputam mercado", afirma Mario Teixeira, gerente de exportações da Kits Paraná, moveleira de Arapongas (PR) que exporta até 8% da produção. "E em alguns mercados não dolarizados, como Paraguai e Chile, dólar valorizado é um falso ganho de competitividade."
Importação
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