O mercado de câmbio superou as piores expectativas dos profissionais do segmento e bateu a taxa de R$ 2,31, a cotação mais alta desde 19 de janeiro de 2006. Nas últimas operações de ontem, o dólar comercial foi negociado a R$ 2,311 na venda, com forte avanço de 5,14%. Nas casas de câmbio, o dólar turismo foi cotado a R$ 2,400, em alta de 3%. O desânimo dos investidores com a crise mundial e a falta de moeda na praça, segundo operadores de corretoras, têm encarecido o dólar. "É aquela velha corrida de boi. Está muito difícil trabalhar e o mercado está praticamente sem padrão, sem parâmetros", avalia o diretor de câmbio da corretora Renova, Cristiano Zanuzo.
O dólar saltou da casa dos R$ 2,10 para R$ 2,30, sem passar pelo "teste" dos R$ 2,20, um patamar esperado por operadores de corretoras até segunda-feira. E, num ambiente turbulento, alguns já apontam o dólar a R$ 2,40 como próximo limiar das taxas. "Não é um problema que está localizado num determinado país ou num determinado continente. É sistêmico e já contaminou todo mundo", avalia o profissional da corretora Fair, Ideaki Iha, que evita falar de preços para a moeda americana. "O mercado trabalha com base na confiança e nós estamos justamente numa crise de confiança entre os bancos", acrescenta.
Leilões do BC
O Banco Central brasileiro realizou dois leilões para tentar deter a escalada do câmbio, mas as operações não surtiram efeito. Por volta das 11 horas, o BC ofereceu mais de US$ 2,2 bilhões em contratos de swap cambial, que funciona como uma operação de venda de dólar no mercado futuro. A demanda ficou abaixo da oferta e o mercado tomou pouco mais de US$ 1 bilhão. Pouco depois, às 15h11, o BC anunciou um leilão de venda de dólar com compromisso de recompra em 30 dias, no montante de US$ 1 bilhão.
"Carry trade"
As moedas das economias emergentes vêm sendo, de forma geral, duramente atingidas por um movimento que pode ser explicado pela forte aversão ao risco. As chamadas moedas de "carry trade", que atraem investidores por pagarem rendimentos maiores em economias com taxas de juros mais elevadas, estão no centro desse movimento. Numa clara estratégia de busca por moedas consideradas mais seguras, ainda que menos rentáveis, o iene e o dólar foram os grandes beneficiados pela onda de venda de moedas de emergentes que atingiu a Ásia, Leste Europeu, Oriente Médio e América Latina.
Entre estrategistas de câmbio de instituições dos EUA e da Europa, há relatos de ordens de clientes para desmontar posições em ações, bônus e moedas estrangeiras e manter posições em dólar nas suas carteiras. Como reflexo desse movimento, os preços das ações caem fortemente e a demanda por dólares cresce na mesma proporção, derrubando as moedas das economias emergentes.
Além desse movimento, há casos específicos de fragilidade do sistema financeiro local, como o da Islândia. "O que diferencia esse desmonte de posições em cada região emergente é o tipo de fluxo que cada economia recebeu nos últimos anos", explica um estrategista de mercados emergentes de um grande banco alemão.
Na Ásia, a forte aversão ao risco de investidores estrangeiros gerou uma fuga das moedas de emergentes da região para o iene, que vem se fortalecendo frente às moedas asiáticas em geral.
A percepção de investidores de que os bancos japoneses têm poucos problemas em comparação com a crise observada no sistema financeiro dos EUA e Europa oferece um conforto adicional. Isso também está ajudando a fortalecer a moeda japonesa frente à libra esterlina, ao euro e ao dólar norte-americano.