Concorrência produz opiniões divergentes

A maior entrada de produtos importados no mercado brasileiro é benéfica para o consumidor, mas, entre as indústrias nacionais, gera controvérsias. "Os setores menos competitivos estão sofrendo com a concorrência", diz o economista da Funcex, Fernando Ribeiro. Ainda assim, pondera, no longo prazo a competição deve provocar avanços na produção brasileira. O diretor de economia da Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee), Antônio Corrêa de Lacerda, discorda ao dizer que importar o que poderia ser produzido localmente gera perda de conhecimento em áreas sofisticadas. "A maioria dos países adiantados utilizou o câmbio desvalorizado para incentivar a industrialização. Parece que aprendemos pouco com a experiência alheia e com a nossa própria", escreveu em artigo recente. Algumas empresas transferiram a produção para a Ásia, enquanto outras deixaram de produzir para só distribuir importados. É o caso da Suggar, que não fabrica mais exaustores no país. "Aumentar a exportação só das commodities como grãos e suco de laranja não é nenhum indicador de eficiência", critica o vice-presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Castro.

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Ao contrário dos exportadores, que não se conformam com a perda de rentabilidade de seus contratos firmados em dólar, o consumidor se animou com a queda na cotação da moeda americana, na expectativa de levar para casa mais produtos importados. A desvalorização do dólar frente ao real é de 23% desde dezembro de 2004. Parte dessa queda certamente foi transferida para produtos que já alcançam alto volume de vendas. Alguns deles se incorporaram ao dia a dia de tal forma que o consumidor nem sempre percebe que a origem é estrangeira.

"Certamente o consumo de importados cresceu bastante. Eu mesmo descobri que o leite em pó que utilizo é argentino, apesar do rótulo em português. E é bem mais em conta", diz o economista da Fundação Centro de Estudos em Comércio Exterior (Funcex), Fernando Ribeiro.

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São produtos encontrados em supermercados, como na rede cascavelense Festval, que procura ter um vasto sortimento de marcas estrangeiras em suas sete lojas do Paraná. O preço de produtos como massas "grano duro", azeite de oliva, vinho, enlatados e doces caiu 8% por conta do câmbio e elevou as vendas. Mas os valores mais baixos também diminuíram o faturamento da loja, e o empresário Carlos Beal decidiu eliminar intermediários para salvar a rentabilidade. Passou a comprar diretamente das fábricas no exterior. "Pudemos baixar o preço em mais 20% para cerca de 200 itens", confirma o gerente Alvino Arantes.

Apesar do número de produtos importados que podem ser encontrados por um preço menor, nem sempre o consumidor percebe vantagem. É o caso de Antônio Mazetto, que desde que o dólar começou a cair está de olho nas bolas de tênis americanas. O consumo na casa dele é alto: são 12 tubos com três bolinhas cada por ano. "Ficou até pior. No meio do ano passou de R$ 17 para R$ 20", reclama.

Produtos especiais, como os alimentos encontrados em butiques de importados, continuam com preço praticamente inalterado. Instalada no Mercado Municipal, a empresária Flávia Rogoski lamenta tamanha estabilidade. "Meus clientes tinham a expectativa de poder comprar mais, mas continuo pagando às distribuidoras o mesmo preço ou até mais", diz. O preço de uma das marcas de óleo de oliva que ela vende já subiu 10% este ano, mas ela optou por não repassar o aumento.

No caso das bebidas importadas, o consumidor vem encontrando alguns preços mais em conta – só que por outras razões, não por conta do câmbio.

"O vinho frizante caiu de preço porque tem muita opção no mercado. Temos sete tipos de lambrusco", exemplifica o sommelier da Queijos e Vinhos, também do Municipal, Valdo Santos. "Não é o dólar que dita o preço e sim a concorrência", concorda o distribuidor de bebidas para eventos Ricardo Luciano.

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O preço do uísque também foi remarcado, o que é atribuído à estratégia de reposicionamento dos importadores. "Eles baixaram o preço de todas as categorias para estimular o consumidor a pagar um pouco mais e tomar uma bebida de qualidade superior", explica Santos. Com isso, na distribuidora de Luciano o Ballantines Finest caiu este ano de R$ 55 para R$ 43,90.

A proprietária da Queijos e Vinhos, Marli Ramos, acrescenta outra explicação para a queda de preço. "Às vezes ele baixa porque o comprador traz um contêiner lotado com o produto", explica.