Analistas do mercado financeiro já dão como praticamente certo de que o dólar deve passar de R$ 6 em breve por causa do aumento das contas públicas, uma preocupação reconhecida pelo governo e que agora corre atrás de tentar acalmar os ânimos dos investidores.
A percepção de descontrole dos gastos públicos ocorre ainda pela dificuldade que a moeda brasileira vem enfrentando para se valorizar de forma consistente, com uma situação fiscal frágil e sem uma luz no fim do túnel. Há o receio de que o governo não consiga cumprir as regras do arcabouço fiscal.
“Temos um cenário difícil à frente. Temos uma relação dívida/PIB muito alta, perto de 80%. Estamos praticamente há dez anos sem gerar superávit primário, com a dívida líquida crescendo e juros altos. Diante de tudo isso, acho que o câmbio tem grandes chances de passar dos R$ 6 no curto prazo”, explicou Mariana Dreux, gestora do fundo Yeld Plus da Itaú Asset em evento em São Paulo nesta segunda (14), em relato à Bloomberg Línea.
Mariana afirmou no evento que o banco revisou a projeção do superávit comercial para 2024, de US$ 110 bilhões para US$ 80 bilhões, devido ao aumento das importações impulsionado pela maior atividade econômica. A balança comercial acumula um superávit de US$ 61,5 bilhões.
O pessimismo também é compartilhado por Rogério Xavier, gestor da SPX Capital, que vê um risco de deterioração contínua das contas públicas. Ele lembrou que os gastos governamentais tendem a aumentar nos anos anteriores à eleição presidencial -- no caso, em 2026, com a possibilidade de que Lula tente a reeleição --, tornando improvável a eliminação do déficit a curto prazo.
“Estou com uma visão negativa para o real. O Brasil está com uma dívida em aceleração forte. Se continuar sem conter gastos, essa dívida pode explodir, e o dólar vai continuar subindo se o problema fiscal não for endereçado”, pontuou.
A expectativa é de que um novo projeto de corte de gastos seja encaminhado ao Congresso após o segundo turno das eleições. O ministro Fernando Haddad, da Fazenda, se reunirá com a ministra Simone Tebet (Planejamento e Orçamento) na tarde desta terça (15) para discutir quais serão os cortes.
Entre as possibilidades, segundo apurou a Agência Reuters com fontes no ministério, estão cortes em gastos específicos e pontuais e uma sustentação “por dentro” do arcabouço fiscal que abrirá margem para despesas discricionárias – que incluem investimentos.
Galípolo pode conter a disparada do dólar
Por outro lado, o ex-diretor de Política Monetária do Banco Central e gestor da Itaú Asset, Bruno Serra, divergiu dos outros analistas e acredita que há uma possibilidade de recuperação do real em uma janela de seis a nove meses. Ele vê uma melhora no cenário doméstico coincidindo com o início da gestão do novo presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, a partir de janeiro de 2025.
“O mercado estava cauteloso com os juros. As expectativas de inflação desandaram. A transição no BC também gerou ruído. Sanados esses problemas, vejo espaço para o real ir bem no curto prazo”, disse Serra.
Os especialistas também destacaram a importância da eleição presidencial nos Estados Unidos, prevista para novembro de 2024, como um fator que trará impacto para a economia global.
Para Rogério Xavier, uma eventual vitória do republicano Donald Trump poderia aumentar o protecionismo, com novas tarifas sobre produtos chineses, o que afetaria negativamente a economia brasileira.
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