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10% a menos na cotação do dólar deve implicar em uma redução entre 0,8 e 1 ponto porcentual na taxa de inflação, medida pelo IPCA. Esse efeito, de acordo com a consultoria AC Pastore & Associados, seria perceptível em oito meses.

Pela primeira vez desde julho do ano passado, o dólar fechou abaixo de R$ 2. A moeda americana se desvalorizou 0,80% ontem em relação ao real, caindo a R$ 1,986 no fechamento. No ano, a perda já beira os 3%. No mercado financeiro, é cada vez mais forte a avaliação de que o governo pretende usar o câmbio para ajudar no combate à inflação, ao menos no curto prazo. Essa percepção é ancorada no fato de que o próprio governo, em diversas ocasiões ao longo do ano passado, indicou que não gostaria de um dólar abaixo de R$ 2 por causa do efeito negativo sobre a indústria nacional.

Na segunda-feira, porém, o Banco Central (BC) promoveu leilão de um instrumento financeiro (swap cambial) que, na prática, equivale à venda de moeda americana. Na ocasião, o BC antecipou uma operação que venceria apenas sexta-feira. Se não bastasse isso, a instituição vem assistindo passivamente ao fortalecimento do real, diferentemente do que ocorreu em 2012. "Está claro que a preocupação do governo com a inflação é maior do que faz crer o discurso das autoridades para o público externo", avalia o diretor executivo da NGO corretora de câmbio, Sidnei Nehme.

O valor do dólar influencia diretamente a inflação por causa do efeito sobre os produtos importados. A consultoria AC Pastore & Associados, do ex-presidente do BC Affonso Celso Pastore, calcula que cada 10% de valorização ou desvalorização do real ante o dólar tem efeito de 0,8 a 1 ponto porcentual sobre o IPCA, índice oficial de inflação do Brasil. Em outras palavras, um ganho de 10% do real implica redução de 0,8 a 1 ponto porcentual do IPCA. O cálculo considera que o efeito completo desse movimento se dá em 8 meses.

É justamente por causa desse prazo que o economista Rafael Bistafa, da Rosenberg & Associados, acredita que o governo não pretende afetar diretamente os índices de preços. "Para reduzir o IPCA, não bastaria levar a taxa de câmbio da casa de R$ 2,05 para R$ 1,95 ou R$ 2, que parece ser o piso do governo", disse. "Avaliamos que a intenção das autoridades, agora, é dar um aviso ao mercado: 'Se for preciso, vamos usar o câmbio para puxar a inflação para baixo.'"

O efeito imediato dessa estratégia, argumenta Bistafa, se dá sobre as expectativas inflacionárias. "Um dos elementos usados para elaborar as projeções de inflação é o câmbio. Por isso, creio que, nas próximas semanas, devemos ver parte do mercado incorporar em suas estimativas essa sinalização do governo."

Por trás das especulações do mercado está a certeza de que o governo Dilma Rousseff descarta, ao menos neste momento, usar o instrumento clássico para combater a inflação: a taxa de juros básica (Selic). "Tudo isso poderia ser evitado se o BC elevasse os juros para conter o recente surto inflacionário. Mas o governo não quer, sob pena de desacelerar ainda mais o crescimento, o que, por sua vez, puxaria para cima a taxa de desemprego", disse Nehme.

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