A queda contínua do dólar, que de janeiro de 2006 até o início deste mês teve variação negativa de 18,4%, golpeou duramente o setor madeireiro no Brasil. As exportações de madeira e manufaturas de madeira caíram de 2,3 milhões de toneladas no primeiro quadrimestre de 2005 para 1,8 milhão no mesmo período de 2007, de acordo com dados da balança comercial do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC). Alguns subsetores conseguiram redirecionar a produção para o mercado interno, mas, no geral, o quadro é bastante desanimador. No Paraná, fábricas de compensados de madeira reduziram as linhas e o número de empregados.
Entre janeiro e abril deste ano, o volume de madeira exportado teve queda de 4,58%. Considerando-se apenas a madeira compensada ou contraplacada, a variação foi de -23%, passando de 439 mil toneladas para 337 mil. Em relação ao mesmo período de 2005, a redução foi de 37,7%, quando foram exportadas 541 mil toneladas.
De acordo com o presidente da Associação Brasileira da Indústria Processada Mecanicamente (Abimci), Antônio Rubens Camilotti, a situação só não é pior por causa da recuperação dos preços internacionais, o que garantiu uma receita estável nos últimos anos, apesar da queda do volume exportado. Em 2005, o valor exportado de madeira no primeiro quadrimestre foi de US$ 996 milhões, contra US$ 1 bilhão neste ano. "Além disso, o reaquecimento da construção civil possibilitou o redirecionamento de parte da produção", explica.
O dólar baixo atinge duramente o setor porque a maior parte da produção é voltada para a exportação. Camilotti cita os dados mais recentes, de 2005: de um faturamento de US$ 6,9 bilhões, US$ 3,9 bilhões vieram das exportações. A Formacompi, de União da Vitória, produzia e exportava 5,5 mil metros cúbicos de compensados por mês há cerca de dois anos. Agora esse número se reduziu para 3 mil. O reflexo direto foi a redução do número de funcionários, de 550 para 330. "A tendência é piorar. No Brasil, a produção nacional de compensados é muito maior do que a demanda interna. O excesso de oferta avilta os preços e por isso também há prejuízo", diz o diretor José Luiz Dissenha.
As três unidades da F.V. de Araújo, em Curitiba, Irati e Tunas do Paraná, também estão operando com menos funcionários. O corte foi de 30% e hoje há 200 trabalhadores que produzem cerca de 2 mil metros cúbicos de compensados. Há dois anos, a produção era de 3 mil.
Apesar das dificuldades com o câmbio, algumas empresas continuam exportando. De acordo com Camilotti, cerca de 60% das 175 indústrias associadas à Abimci possuem áreas próprias de reflorestamento. "Elas consideram o preço médio histórico e por isso mantêm os volumes exportados mesmo com o câmbio desfavorável", diz.
Mais dificuldades
Mesmo assim, há outros entraves, como a greve de funcionários do Instituto de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renovavéis (Ibama), que paralisa as exportações pela falta de vistoria das cargas. O Porto de Paranaguá, que têm armazéns cheios de madeira, ainda não sentiu o impacto da paralisação. Mas isso deve ocorrer nos próximos dias, já que há caminhões carregando madeira para o porto todos os dias, segundo Camilotti. "Estamos analisando que medidas podemos tomar para, no caso de a greve persistir, as empresas não perderem os embarques", conta Camilotti.
As entidades do setor madeireiro também estão se mobilizando para reivindicar ao governo federal um pacote de desoneração tributária para as exportações. "A reversão do quadro atual depende de uma taxa cambial mais favorável, o que não deve ocorrer no curto ou médio prazo, ou então da compensação tributária", diz o presidente da Abimci. Ele cita dados de 2005 que mostram que dos US$ 6,9 bilhões faturados por toda a indústria de madeira, US$ 1,9 bilhão foram pagos em impostos. "O Brasil tem um produto muito competitivo, mas quando ele chega no porto, a situação muda", diz.