A recente aproximação do dólar da marca de R$ 2,10 vem acentuando os contornos de um cenário que mescla vantagens e desvantagens para a economia brasileira. Por um lado, o baixo patamar da moeda norte-americana (ela fechou com a cotação estável ontem, vendida a R$ 2,13) é bom para o consumidor, pois segura a inflação. Com isso, abre espaço para cortes maiores na altíssima taxa de juros brasileira, apontada como grande responsável pelo baixo crescimento da economia no ano passado.
Ao mesmo tempo, o dólar baixo também tem ajudado o país a elevar suas reservas em moeda estrangeira, ficando cada vez menos vulnerável a eventuais crises internacionais. "O país também fica mais atraente para o investimento", explica Tiago Davino, da consultoria GRC Visão.
Mas as recentes quedas do dólar têm um lado perverso: estão complicando a situação dos exportadores, cuja margem de lucro se estreita cada vez mais. Alguns já engolem prejuízos para não perder clientes lá fora. A forte demanda mundial esconde um pouco esse fato, pois ajudou o país a bater recordes no comércio exterior no ano passado e ainda sustenta aumentos nas vendas externas. Mas a verdade é que, na hora de converter as receitas para reais, as cifras ficaram menores.
Para as grandes companhias, isso não é tão complicado, pois têm alta escala de produção. Muitas ainda contam com o fato de usar insumos importados. "Quem fabrica componentes eletrônicos, por exemplo, está com custos mais baixos", diz o vice-presidente do Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças (Ibef-PR), Nélson Luiz de Oliveira. O relativo conforto das grandes ficou evidente em uma recente pesquisa da consultoria Deloitte: apenas 12 de 62 empresas paranaenses que faturam mais de R$ 10 milhões por ano acham que a mudança da política cambial deveria ser priorizada pelo governo.
As pequenas e médias empresas, porém, precisaram cortar radicalmente os custos, inclusive na folha de pagamentos. A Bresolin Indústria e Comércio de Madeiras, de Cascavel (Oeste do estado), demitiu 180 de seus 340 funcionários no ano passado. Como 80% de sua receita vêm das exportações, o faturamento caiu cerca de 60%. "Nos preparamos para um dólar a R$ 2,10 em 2006. Se ficar abaixo, vamos ter de fazer uma nova reestruturação", diz Guido Bresolin Júnior, sócio-proprietário. O consultor Heroldo Secco Júnior, que assessora mais de 30 pequenas e médias empresas exportadoras da região Oeste, diz que a maioria reduziu suas vendas. "Algumas já deixaram de exportar", conta.
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