Avanço do dólar eleva pressão sobre o Banco Central
Analistas ressaltaram que o avanço do dólar elevou as expectativas para que o Banco Central esclareça se pretende permitir a pressão sobre a moeda ou se adotará medidas para limitar a volatilidade do câmbio.
"Mesmo no nosso cenário mais pessimista, estávamos considerando o dólar a R$ 2,72 agora em fevereiro", disse a economista da CM Capital Markets Jéssica Strasbourg, acrescentando que precisará recalcular suas projeções, que apontavam que a moeda norte-americana terminaria o ano a R$ 3,11.
O BC vem atuando diariamente no câmbio desde agosto de 2013 para oferecer proteção cambial. O atual molde do programa de atuações diárias está marcado para durar "pelo menos" até 31 de março, o que deve alimentar a incerteza do mercado nas próximas semanas sobre uma possível extensão da intervenção.
Nesta manhã, o BC deu continuidade às rações diárias, vendendo a oferta total de até 2 mil swaps cambiais, que equivalem a venda futura de dólares, pelas atuações diárias.
Foram vendidos 600 contratos para 1º de dezembro de 2015 e 1,4 mil contratos para 1º de fevereiro de 2016, com volume correspondente a US$ 97,8 milhões.
O BC também vendeu a oferta integral de até 13 mil swaps para rolagem dos contratos que vencem em 2 de março, equivalentes a US$ 10,438 bilhões. Ao todo, a autoridade monetária já rolou cerca de 42% do lote total.
O dólar fechou em alta de mais de 2% nesta terça-feira (10), na máxima em mais de dez anos, refletindo o estresse do mercado com a possibilidade de a Grécia deixar a zona do euro e com a desaceleração econômica da China.
Embora parte dos fatores que vêm pressionando a divisa norte-americana nos últimos dias tenham origem nos mercados externos, a deterioração dos fundamentos macroeconômicos brasileiros, dúvidas sobre o futuro da Petrobras e fatores técnicos garantiram que a pressão cambial fosse mais intensa aqui.
O dólar subiu 2,12%, a R$ 2,8364 na venda, maior nível desde 1º de novembro de 2004, quando fechou negociado a R$ 2,854. Na máxima da sessão, a divisa alcançou R$ 2,8398. Segundo dados da BM&F, o giro financeiro ficou em torno de US$ 1 bilhão.
"As moedas emergentes têm sofrido de maneira geral, mas o cenário da economia brasileira está muito deteriorado", resumiu o operador de câmbio da corretora Correparti João Paulo de Gracia Correa.
Segundo ele, a volatilidade recente do câmbio tende a provocar saída de capitais externos. "Aquele estrangeiro que entrou aqui para ganhar juros quando o dólar estava a R$ 2,65 acabou perdendo dinheiro."
Cenário externo
Nesta sessão, as preocupações com a fraqueza da economia da China, importante parceiro comercial do Brasil e referência para investidores em mercados emergentes, foram corroboradas por dados que mostraram que a inflação ao consumidor chinês atingiu em janeiro o menor nível em cinco anos.
O número alimentou o mau humor dos investidores internacionais, já afetado pelo temor de que o impasse entre a Grécia e seus credores force o país a sair da zona do euro, o que poderia enfraquecer ainda mais a economia global.
"Parece haver algum movimento na posição grega que ainda pode formar as bases para um acordo", escreveram analistas do Brown Brothers Harriman em relatório. "Dito isso, os credores oficiais não parecem ter aliviado suas exigências em nada."
Preocupações internas
No front doméstico, as crescentes expectativas de estagnação econômica e inflação de mais de 7% em 2015 somavam-se às preocupações com o futuro da Petrobras, após a nomeação de Aldemir Bendine, ex-presidente do Banco do Brasil, para comandar a estatal.
Mais cedo, a Verde Asset Management, maior hedge fund do Brasil, divulgou relatório em que defende que a deterioração dos fundamentos macroeconômicos do Brasil ainda não se refletiu completamente no preço do câmbio, projetando mais valorização do dólar.
O mau humor com os fatores internos era corroborado ainda pelas crescentes dúvidas sobre a capacidade do governo de promover um ajuste fiscal significativo neste ano, em meio à crescente oposição às medidas que vêm sendo adotadas pela equipe econômica, encabeçada pelo ministro da Fazenda, Joaquim Levy.
"O problema é que as expectativas de melhora na política econômica estão perdendo força", disse o economista da 4Cast Pedro Tuesta. "Se o apoio político deixar de existir, pode haver um downgrade (da classificação de risco soberano) à frente", acrescentou.
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