A redução da meta fiscal para quase zero derrubou a Bolsa brasileira nesta quinta-feira (23) e provocou uma disparada na cotação do dólar em relação ao real, levando a moeda americana para perto de R$ 3,30, no maior nível desde março.
O dólar à vista, referência no mercado financeiro, teve valorização de 1,91%, para R$ 3,288 na venda – maior patamar desde 19 de março, quando estava em R$ 3,305.
Já o dólar comercial, usado no comércio exterior, avançou 2,16%, para R$ 3,296. A divisa chegou a ser cotada a R$ 3,299 durante o dia.
Na Bolsa, o principal índice de ações do mercado nacional, o Ibovespa, fechou em baixa de 2,18%, para 49.806 pontos – menor pontuação desde 16 de março, quando estava em 48.848 pontos. Foi também a maior desvalorização diária desde 26 de março, quando havia cedido 2,47%.
Os ministros Joaquim Levy (Fazenda) e Nelson Barbosa (Planejamento) afirmaram na véspera que a meta de superavit primário foi reduzida de R$ 66,3 bilhões (1,1% do PIB) para R$ 8,7 bilhões (0,15% do PIB).
O governo também colocou um dispositivo que o permitiria incorrer em deficit de até R$ 17,7 bilhões, se as receitas extraordinárias decepcionarem. “Isso por si só é bastante negativo. A dívida pública só deve se estabilizar em 2018, se tudo der certo. Com isso, aumenta muito o risco de o país perder o grau de investimento”, disse Luciano Rostagno, estrategista-chefe do Banco Mizuho do Brasil.
“A revisão das metas sugere que o [ministro Joaquim] Levy está perdendo força na condução da política econômica. O governo não está conseguindo corrigir os erros do passado. Além disso, o mercado de trabalho continua dando sinais de rápida deterioração”, completou Rostagno, ressaltando a alta na taxa de desemprego do país anunciada na manhã desta quinta (23).
Após novas metas fiscais, agência Fitch indica que vai cortar nota do país
A nota atual da Fitch ao Brasil é BBB, o que indica selo de bom pagador. O país está dois degraus acima da nota mínima para ser considerado investimento especulativo.
Leia a matéria completaSurpresa negativa
De forma geral, o corte na meta fiscal surpreendeu economistas, que viram um pessimismo preocupante (alguns viram exagero) do governo em relação à trajetória das contas públicas nos próximos anos, indicando a possibilidade da existência de algum “esqueleto” ou “pedalada” ainda desconhecida que precisará ser desfeita.
Para Luis Gustavo Pereira, estrategista da Guide Investimentos, a decisão do governo deve ser recebida “com desconfiança pelo mercado, aumentando a percepção de risco com relação ao país”.
“O anúncio do governo, com respaldo da presidente, pode se tornar uma ‘caixa de Pandora’ se os políticos enxergarem a redução da meta como sinal verde para gastar mais”, disse Marcelo Carvalho, economista-chefe para a América Latina do banco BNP Paribas, em nota.
Carvalho avalia que a colocação do dispositivo que permite deficit compromete a “cruzada” do ministro Joaquim Levy para estabelecer maior transparência fiscal no país, o que parece ser “uma batalha que o Sr. Levy perdeu”.
“Há uma pressão muito forte de venda de ações e compra de dólares. Isso demonstra que o mercado não gostou nem um pouco da decisão de corte na meta fiscal. A projeção, agora, é que a moeda americana chegue a R$ 3,45 no final do ano”, disse Alexandre Wolwacz, diretor da escola de investimentos Leandro & Stormer. “Parte do pessimismo, porém, pode ter sido irracional, pelo ‘efeito manada’, por isso pode haver correção.”
Governo reduz meta fiscal para 0,15% do PIB e corta gastos em R$ 8,6 bi
Meta de superávit primário anterior era de 1,1% do PIB
Leia a matéria completaJuros nos EUA
Além do cenário fiscal brasileiro, a queda maior que a esperada nos novos pedidos de seguro-desemprego nos Estados Unidos também pressiona o câmbio na sessão. O indicador atingiu o menor nível em quatro décadas, com 255 mil solicitações na semana terminada em 18 de julho.
O resultado corrobora a perspectiva de que a economia americana está pronta para o início de um ciclo de elevação dos juros, que estão perto de zero desde 2008 – uma medida para conter os efeitos negativos da crise.
O aperto monetário americano deixaria os títulos do Tesouro dos EUA – que são remunerados por essa taxa e considerados de baixíssimo risco – mais atraentes do que aplicações em emergentes como o Brasil, provocando uma saída de recursos dessas economias. Com isso, a menor oferta de dólares tenderia a pressionar a cotação da moeda americana para cima.
Swaps
Nesta quinta-feira, o BC deu continuidade à rolagem dos swaps cambiais que vencem em agosto -operação que equivale a uma venda futura de dólares para estender o prazo de contratos. A oferta de 6 mil papéis foi totalmente vendida por US$ 293,5 milhões. Nos primeiros leilões deste mês, haviam sido ofertados até 7,1 mil swaps.
Mantendo a oferta de até 6 mil contratos por dia até o penúltimo dia útil do mês, o BC rolará o equivalente a US$ 6,396 bilhões ao todo, ou cerca de 60% do lote total. Se continuasse com as ofertas anteriores, a rolagem seria de 70%, como a do mês anterior.
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