Mercado reage mais ao cenário externo, defende Guido Mantega
O ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse ontem que os altos e baixos do mercado financeiro nas últimas semanas são provocados por incertezas no cenário externo, e não pelos resultados das pesquisas eleitorais. "Temos tido alguma volatilidade maior no mercado, nas últimas semanas, em função do cenário externo. Há dúvidas de quando o Fed (Federal Reserve, BC dos EUA), vai aumentar a taxa de juros, tivemos problemas na Escócia, na Ucrânia, resultados da China, Alemanha... Várias moedas têm se desvalorizado", defendeu.
Pressionado pelos jornalistas sobre a influência das pesquisas no mercado, Mantega admitiu que o dólar e a Bolsa podem ter alguma reação ao quadro eleitoral, mas insistiu que o cenário internacional tem maior peso nos negócios. "Você pode ter algum movimento doméstico, porque alguns players podem utilizar isso para movimentar o mercado. Mas é uma parte pequena da flutuação que estamos tendo."
Especuladores
Por outro lado, o presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Luciano Coutinho, reforçou ontem que a volatilidade do mercado financeiro ocorreu, em parte, por causa da atuação de especuladores profissionais. Ele frisou que essa é uma opinião particular sobre a queda das ações na BM&FBovespa.
"Tem um pedaço da volatilidade do mercado que é exacerbada por operadores", afirmou ele, após palestra em evento da Federação Internacional de Consultores em Engenharia (Fidic). A expectativa, complementou, é que, passado o período eleitoral, o país encontre o "seu caminho de crescimento".
Para Coutinho, existem operadores profissionais gerando volatilidade no mercado "para ganhar mais". "Como um banco de desenvolvimento que olha sempre para o médio e longo prazos, estou apontando para as condições de médio e longo prazos", pontuou, afirmando que o empresariado brasileiro mantém os planos de investimento e não está pessimista com o futuro da economia.
Estadão Conteúdo e Folhapress
O crescimento de Dilma Rousseff nas pesquisas eleitorais fez estragos ontem no mercado financeiro. A divulgação de levantamentos que reforçam a possibilidade de reeleição da presidente o mais recente, divulgado ontem à noite, mostra vantagem de 16 pontos de Dilma sobre Marina Silva no primeiro turno* levou a BM&FBovespa à maior queda em três anos, e empurrou o dólar para o nível mais alto desde dezembro de 2008. O Ibovespa, principal índice da Bolsa, fechou o dia em baixa de 4,52%, aos 54.625 pontos. O dólar comercial subiu 1,6%, para R$ 2,456.
INFOGRÁFICO: Veja o cenário do mercado financeiro atual
Embora o ministro da Fazenda, Guido Mantega, tenha atribuído esses movimentos ao cenário internacional, analistas dizem que a corrida eleitoral foi determinante para a oscilação. O presidente do BNDES, Luciano Coutinho, endossou essa avaliação, ao afirmar que "operadores profissionais" estariam exacerbando a volatilidade do mercado.
Entre as maiores quedas do dia estiveram os papéis de empresas estatais, mais suscetíveis ao que o mercado vê como intervencionismo do governo na economia. As ações preferenciais da Petrobras lideraram as perdas, com desvalorização de 11,17%, seguidas pelas ações ordinárias da própria petroleira (-10,44%) e as ordinárias do Banco do Brasil (-8,55%).
"Não é que o mercado veja a Marina Silva [que perde terreno nas pesquisas] como uma candidata francamente pró-mercado, mas sim porque vê como ruim a continuidade de Dilma Rousseff, já que ela definitivamente não é pró-mercado", diz Wellington Ramos, economista da agência de classificação de risco Austin Rating.
Pedro Paulo Silveira, economista da TOV Corretora, lembra que no pregão anterior, na sexta-feira, a Bolsa havia subido consideravelmente (2,2%) e o dólar, recuado (-0,6%), por causa de rumores que depois não se confirmaram de más notícias para a campanha de Dilma. "O mercado não gosta da presidente. Se ela se reeleger no primeiro turno, podemos esperar queda da bolsa e alta do dólar e dos juros futuros por pelo menos um mês."
Fundamentos
Para Silveira, a questão eleitoral aprofunda as tensões que vêm do exterior. A economia europeia está patinando e a China dá sinais de desaceleração e, ontem, assustou o mercado com os protestos em Hong Kong. Mesmo uma notícia teoricamente boa, a recuperação da economia dos Estados Unidos, acaba afetando o mercado porque reforça a chance de alta dos juros norte-americanos, o que levaria capitais de mercados emergentes em direção ao Tesouro dos EUA.
Na opinião de analistas, os fundamentos da economia brasileira e mundial dão motivos para que o dólar realmente fique mais caro e a Bolsa, estagnada ou em queda. "O dólar só não vinha subindo por causa da atuação do Banco Central. O patamar de R$ 2,20 ou R$ 2,30 era artificial. Além disso, a piora do quadro fiscal e o intervencionismo do governo motivariam uma queda da Bolsa", diz Mehanna Mehanna, sócio da Toro Investimentos. "Mas os dois movimentos só ocorreram ontem, e com tanta volatilidade, por causa da questão eleitoral."
*A pesquisa Vox Populi, contratada pela Rede Record, foi registrada no TSE sob o número BR-00888/2014.
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