Às vésperas da reunião do G20, na qual a guerra cambial deve dominar as discussões, a taxa de câmbio doméstica retomou o nível de R$ 1,70 ontem, com alta de 1,13%. Na semana passada, a moeda americana teve queda de 1,4%. Analistas destacam que o mercado ainda trabalha com uma tendência predominante de baixa para as cotações, tendo em vista a injeção de US$ 600 bilhões prometida pelo banco central americano para os próximos meses, e a expectativa de que uma parcela significativa desse montante inunde as economias emergentes.
Por outro lado, também há um relativo consenso entre os agentes financeiros de que o governo brasileiro deve lançar novas medidas para conter a desvalorização cambial, provavelmente após o encerramento da reunião do G20 (grupo dos países mais ricos do mundo), na quinta e na sexta-feira.
Embora economistas do setor financeiro mostrem expectativas "realistas" sobre o resultado desse encontro político, alguns analistas temem que declarações pontuais das autoridades presentes gerem volatilidade durante esses dois dias. Nesse contexto, o dólar comercial oscilou entre R$ 1,702 e R$ 1,691, para encerrar o dia na cotação de R$ 1,699. Nas casas de câmbio paulistas, o dólar turismo foi cotado por R$ 1,810 para venda e por R$ 1,640 para compra.
Entre as principais notícias do dia, o boletim Focus, elaborado pelo Banco Central, revelou que boa parte dos economistas do setor financeiro revisou para cima suas projeções para a inflação deste ano o IPCA projetado passou de 5,29% para 5,31%.
Já a estimativa para o dólar ao final deste ano foi mantida em R$ 1,70 e teve uma leve redução para 2011, indo de R$ 1,78 para R$ 1,77. O mercado continua estimando que a taxa básica de juros, a Selic, encerre 2010 no patamar atual de 10,75% ao ano e termine 2011 em 11,75%.
Protecionismo
O diretor da Fiesp Roberto Giannetti da Fonseca defendeu duas medidas que o governo deveria adotar para proteger o real mediante "o ataque especulativo" que está ocorrendo contra a moeda brasileira num contexto de guerra cambial internacional.
Uma delas é a adoção de quarentena de 90 dias para capitais de curto prazo, que visam apenas aproveitar a arbitragem de juros, e a outra é a atuação firme do Banco Central com operações de swap reverso, que não são realizadas desde 2009. "É preciso criar volatilidade no câmbio para esse tipo de investidor que é covarde. Não entendo porque o BC não retoma as operações de swap reverso", afirmou.
Segundo ele, tais medidas serão necessárias enquanto ações internacionais não forem adotadas para coibir as desvalorizações competitivas de moedas. No aspecto ideal ele ressaltou que seria importante que a Organização Mundial do Comércio (OMC) analisasse os casos de países que não estão obedecendo patamares de câmbio de mercado, contudo não detalhou tal tipo de atuação da OMC.