O dólar fechou com alta de mais de 2,5%, no maior nível em quase doze anos, com investidores buscando proteção em meio à turbulência política que vem dificultando a aprovação de medidas para o reequilíbrio das contas públicas brasileiras e às dúvidas sobre a intervenção do Banco Central.
O dólar também avançou nos mercados externos, antecipando-se a uma possível sinalização do Federal Reserve na semana que vem de que a alta dos juros dos EUA está próxima.
A moeda norte-americana subiu 2,77%, a R$ 3,2490 na venda, após subir a R$ 3,2815 na máxima da sessão. O valor do fechamento é o mais alto desde abril de 2003.
Na semana, a moeda norte-americana subiu 6,3%, acumulando alta de 13,76% desde o início do mês.
“O nosso horizonte está muito ruim e, para piorar, tem as manifestações no fim de semana”, disse o estrategista da corretora Coinvalores, Paulo Celso Nepomuceno, referindo-se aos protestos em favor do impeachment de Dilma. “O investidor estrangeiro diz: ‘vou sair por enquanto e volto quando tudo se resolver’ e isso estressa o mercado”.
Ajuste fiscal em xeque
A principal preocupação é que, à medida que a popularidade da presidente Dilma Roussseff cai e cresce a rebeldia na base governista no Congresso, torna-se cada vez mais custoso para o governo implementar as dolorosas medidas de ajuste e resgatar a credibilidade da política fiscal brasileira.
Essa perspectiva tem sido corroborada também pelos desdobramentos do escândalo bilionário de corrupção na Petrobras, que vem assustando investidores estrangeiros.
Dúvidas sobre o BC
Os ruídos em torno do futuro do programa de intervenções diárias do Banco Central no câmbio completavam o quadro de apreensão doméstica. O BC vem vendendo swaps cambiais diariamente desde agosto de 2013 para oferecer proteção cambial e limitar a volatilidade, em um programa marcado para durar pelo menos até o fim deste mês.
Uma fonte da Fazenda afirmou à Reuters que o governo brasileiro não considera usar suas reservas internacionais neste momento para conter a forte alta do dólar ante o real.
Nesta manhã, o BC vendeu a oferta total de até 2 mil swaps pelas rações diárias, equivalentes a uma posição vendida de US$ 97,5 milhões. Foram vendidos 1.050 contratos para 1º de dezembro de 2015 e 950 para 1º de março de 2016.
A autoridade monetária também vendeu a oferta integral no leilão de rolagem dos swaps que vencem em 1º de abril. Até agora, foram rolados cerca de 36% do lote total, que corresponde a US$ 9,964 bilhões.