O dólar fechou com alta de mais de 2,5%, no maior nível em quase doze anos, com investidores buscando proteção em meio à turbulência política que vem dificultando a aprovação de medidas para o reequilíbrio das contas públicas brasileiras e às dúvidas sobre a intervenção do Banco Central.
Dólar em espécie chega a custar R$ 3,48 em casas de câmbio
Nesta sexta-feira (13), o dólar bateu R$ 3,28, tanto considerando o preço da moeda americana à vista, usada como referência para negociações no mercado financeiro, quanto de comercial, utilizada no comércio exterior
Leia a matéria completaO dólar também avançou nos mercados externos, antecipando-se a uma possível sinalização do Federal Reserve na semana que vem de que a alta dos juros dos EUA está próxima.
Expectativa sobre juros nos EUA afeta mercados globais
As incertezas domésticas têm garantido que o real venha se enfraquecendo mais do que seus pares emergentes em meio à onda global de compra de dólares com as expectativas de que o aguardado aperto monetário nos Estados Unidos deve ter início em breve.
“Os mercados de trabalho (norte-americanos) continuaram a melhorar e a inflação se estabilizou, cumprindo os critérios econômicos estabelecidos pelo Fed” para a alta de juros, escreveram analistas do Scotiabank em relatório.
Desde o início do ano, o dólar subiu cerca de 5% contra os pesos mexicano e chileno, 8% ante o rand sul-africano e 13% contra a lira turca mas avançou 22,20% em relação ao real.
A aversão ao risco no Brasil tem elevado os custos de financiamento em moeda estrangeira no mercado doméstico, representados pelo cupom cambial. Apenas na sessão desta sexta (13), o cupom para maio subiu 0,23 ponto percentual, a 1,91%.
“É uma combinação de volatilidade, cenário interno conturbado e demanda forte por hedge”, explicou o diretor de câmbio do Banco Paulista, Tarcísio Rodrigues. “Como você tem uma demanda maior no mercado futuro, o cupom precisa se ajustar a isso”.
A moeda norte-americana subiu 2,77%, a R$ 3,2490 na venda, após subir a R$ 3,2815 na máxima da sessão. O valor do fechamento é o mais alto desde abril de 2003.
Na semana, a moeda norte-americana subiu 6,3%, acumulando alta de 13,76% desde o início do mês.
“O nosso horizonte está muito ruim e, para piorar, tem as manifestações no fim de semana”, disse o estrategista da corretora Coinvalores, Paulo Celso Nepomuceno, referindo-se aos protestos em favor do impeachment de Dilma. “O investidor estrangeiro diz: ‘vou sair por enquanto e volto quando tudo se resolver’ e isso estressa o mercado”.
Ajuste fiscal em xeque
A principal preocupação é que, à medida que a popularidade da presidente Dilma Roussseff cai e cresce a rebeldia na base governista no Congresso, torna-se cada vez mais custoso para o governo implementar as dolorosas medidas de ajuste e resgatar a credibilidade da política fiscal brasileira.
Essa perspectiva tem sido corroborada também pelos desdobramentos do escândalo bilionário de corrupção na Petrobras, que vem assustando investidores estrangeiros.
Dúvidas sobre o BC
Os ruídos em torno do futuro do programa de intervenções diárias do Banco Central no câmbio completavam o quadro de apreensão doméstica. O BC vem vendendo swaps cambiais diariamente desde agosto de 2013 para oferecer proteção cambial e limitar a volatilidade, em um programa marcado para durar pelo menos até o fim deste mês.
Uma fonte da Fazenda afirmou à Reuters que o governo brasileiro não considera usar suas reservas internacionais neste momento para conter a forte alta do dólar ante o real.
Nesta manhã, o BC vendeu a oferta total de até 2 mil swaps pelas rações diárias, equivalentes a uma posição vendida de US$ 97,5 milhões. Foram vendidos 1.050 contratos para 1º de dezembro de 2015 e 950 para 1º de março de 2016.
A autoridade monetária também vendeu a oferta integral no leilão de rolagem dos swaps que vencem em 1º de abril. Até agora, foram rolados cerca de 36% do lote total, que corresponde a US$ 9,964 bilhões.
Bolsa fecha em baixa pressionada por Petrobras e crise política
O cenário político impactou os negócios na Bolsa brasileira nesta sexta-feira (13), em novo dia de queda para as ações da Petrobras devido às incertezas sobre a publicação de seu balanço auditado.
O Ibovespa, principal índice da Bolsa brasileira, caiu 0,58%, a 48.595 pontos. Das 68 ações negociadas, 40 caíram e 28 subiram no pregão. O volume financeiro negociado foi de quase R$ 7,4 bilhões, acima do giro médio diário no ano, que é de R$ 6,6 bilhões, até o dia 12.
Na semana, a Bolsa caiu 2,77%, e no ano a queda é de 2,82%. Foi a segunda semana seguida em que o Ibovespa fechou com perdas.
Destaque para as ações da Petrobras, que fecharam em baixa pela segunda sessão seguida. Os papéis preferenciais, mais negociados e sem direito a voto, caíram 2,35%, a R$ 8,30, no menor valor desde 30 de janeiro deste ano. No ano, as ações perdem 17,2%.
Os papéis ordinários, com direito a voto, caíram 1,57%, a R$ 8,15, no maior valor também desde 30 de janeiro deste ano. No ano, as ações se desvalorizam 15%.
Na ponta positiva do índice, a principal alta foi das ações da PDG Realty, que subiram 7,89%. As ações da Braskem subiram 5,8%, a R$ 10,95, em uma recuperação após as fortes quedas sofridas nos dois pregões anteriores em resposta à citação da empresa nas investigações da Operação Lava Jato.
Reforma tributária promete simplificar impostos, mas Congresso tem nós a desatar
Índia cresce mais que a China: será a nova locomotiva do mundo?
Lula quer resgatar velha Petrobras para tocar projetos de interesse do governo
O que esperar do futuro da Petrobras nas mãos da nova presidente; ouça o podcast