Declaração do ministro da Fazenda, Joaquim Levy, no último dia 30 turbinou a procura pelo dólar: "efeito manada"| Foto: Alexandre Cassiano / Agência O Globo

Disparada

Clientes de casas de câmbio compram dólar turismo a R$ 3

Se o dólar comercial fechou em R$ 2,83, para o consumidor, em casas de câmbio, o dólar turismo já beirava ou mesmo ultrapassava a marca dos R$ 3. A alta da moeda americana já começa a preocupar quem planeja ou está com viagem marcada para o exterior.

Na Cotação Corretora, o dólar americano em espécie era vendido a R$ 3,04 ontem, já com o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF). A moeda no cartão pré-pago, com taxa de IOF maior, era comercializada a R$ 3,19. Na Confidence Corretora, o dólar em espécie também era vendido a R$ 3,04, e o produto no cartão pré-pago, a R$ 3,20. Na Sol Corretora, o dólar em dinheiro saía um pouco abaixo da marca dos R$ 3, a R$ 2,96. Já no cartão pré-pago, a cotação era de R$ 3,15.

O preço salgado do dólar turismo já provoca preocupações em quem vai viajar para o exterior. Mauro Calil, especialista de investimentos do banco Ourinvest, diz que o viajante deve juntar dinheiro e comprar a quantia que necessita o mais rápido possível, por causa da tendência de alta do dólar. "Ele deve chegar a R$ 3, o problema é quando. Acredito que no meio do ano, entre junho e agosto", diz.

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O turbilhão de incertezas que atinge o mercado brasileiro colocou o dólar ontem no maior patamar desde 8 de novembro de 2004. A moeda americana fechou em R$ 2,8310, uma alta de 1,83%. Desde o fim de janeiro, o dólar vem numa clara escalada ante o real – no dia 29, estava cotado a R$ 2,6080. Em apenas oito dias úteis, foram 22 centavos de alta.

O gatilho para o movimento foram os comentários do ministro da Fazenda, Joaquim Levy, no último dia 30. Na ocasião, ele afirmou que o governo não tem a intenção de manter o câmbio "artificialmente valorizado". De lá para cá, os números e as notícias que saíram ampliaram as dúvidas sobre a capacidade de o governo conseguir reequilibrar a economia.

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"Temos os problemas de sempre: risco de racionamento de energia, falta de água, PIB baixo...", disse João Paulo de Gracia Corrêa, gerente de câmbio da Correparti Corretora. "Tudo começou quando o Levy falou, no dia 30. E agora vemos um 'efeito manada', em que todo mundo vai em busca de dólar."

As notícias que vêm do exterior também têm contribuído para a valorização da moeda americana. Na sessão de ontem, a incerteza em relação ao destino da Grécia foi o principal pano de fundo externo para o avanço da moeda. As informações eram de que a Comissão Europeia teria preparado uma proposta para prolongar em seis meses o resgate financeiro da Grécia.

No entanto, o ministro da economia da Alemanha, Wolfgang Schäuble, descartou a possibilidade de novo acordo para a dívida grega. E como não está claro nem mesmo se o país aceitaria esse acordo, a indefinição permanece.

Isso manteve o dólar em alta ante praticamente todas as demais divisas de países emergentes e exportadores de commodities no exterior. Só que, no Brasil, as preocupações internas intensificaram esse movimento. Na cotação mínima de balcão, vista na abertura, a moeda americana marcou R$ 2,7850, para depois subir até a máxima do dia de R$ 2,8360, recuando depois para os R$ 2,8310.

Especulação

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Segundo analistas, há também um forte componente especulativo nesse movimento.

"Em 2002, houve um firme avanço do dólar por causa da eleição do Lula. Mas naquele momento o país estava quebrado, com poucas reservas. Na crise de 2008, houve novo estresse, mas a questão foi global. Agora, o movimento de alta do dólar não tem um ingrediente tão forte", disse Alfredo Barbutti, economista da BGC Liquidez Corretora.

" O problema é que o Brasil hoje não está sufocado como estava em 2002."