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Dólar volta a R$2,02 com saída de divisas e exterior incerto

O dólar encerrou março em torno de R$ 2,02, devolvendo parte da baixa registrada nos primeiros três meses do ano, diante do aumento das tensões na zona do euro, da continuidade do fluxo negativo e das incertezas dos investidores em relação às políticas econômica e monetária do governo. A saída de dólares do país foi mais uma vez evidenciada nesta sessão, com a divisa descolando do cenário externo e voltando a subir mesmo após uma nova intervenção do Banco Central na véspera sugerir a defesa de uma banda cambial cujo teto seria cerca de R$ 2.

A moeda norte-americana subiu 0,55%, encerrando a R$ 2,0215 na venda, depois de oscilar entre R$ 2,0048 na mínima e R$ 2,0230 na máxima. Segundo dados da clearing de câmbio da BM&F, o volume negociado foi de 5,3 bilhões de dólares.

O sentimento de aversão ao risco tomou conta dos mercados durante o mês de março devido a renovadas preocupações com a zona do euro. A incapacidade da Itália de formar um novo governo e a crise financeira no Chipre incentivaram os investidores a buscar segurança na moeda norte-americana. No mês, a dólar avançou 2,19 por cento ante o real.

"Os estrangeiros estão comprados em contratos futuros de dólar por causa da questão econômica global. O Brasil não é mais tão atrativo e o receio do investidor afasta capital do país", afirmou o gerente de análise da XP Investimentos, Caio Sasaki.

Segundo dados do BC, o fluxo cambial --que mede a entrada e saída de moeda estrangeira do país-- está negativo em 2,227 bilhões de dólares no ano até o dia 22 de março.

Embora haja a perspectiva de mais entradas de divisas no Brasil devido aos embarques de safras agrícolas e até mesmo por causa da possibilidade de alta dos juros, analistas acreditam que tais entradas devem ser pontuais e que o fluxo continuará pressionado no decorrer do ano.

"Acho que para o fim do ano esse dólar de hoje vai dar saudades. Para quem está planejando viajar para (fazer) sacolão, principalmente", afirmou o superintendente-adjunto da mesa de derivativos da CGD Investimentos, Jayro Rezende, para quem é provável que o dólar fique mais próximo de 2,05 reais nos próximos meses.

INFLAÇÃO DELIMITA BANDA

No entanto, analistas ainda acreditam que o Banco Central não permitirá que o dólar suba muito para evitar pressões inflacionárias causadas por produtos importados mais caros, inclusive insumos e bens de capital essenciais à indústria.

O dólar saiu de um nível próximo a 2,05 reais no final de 2012 e chegou a tocar 1,95 real durante o primeiro trimestre do ano com a expectativa de que o BC favoreceria um real mais forte para ajudar no combate à inflação.

Mesmo devolvendo parte da desvalorização vista durante o primeiro trimestre, o dólar ainda tem queda acumulada de 1,29 por cento no período.

"A questão inflacionária pode pressionar o câmbio um pouco para baixo, mas mantendo a região dos 2 reais como referência", disse Sasaki, da XP Investimentos, que vê uma banda informal mais provável de 1,95 a 2,05 reais, em vez do teto de 2 reais apontado por vários analistas.

No final de 2012, autoridades do governo --principalmente no Ministério da Fazenda-- defendiam o dólar acima de 2 reais para impulsionar as exportações. Este ano, no entanto, o foco voltou-se às consequentes pressões inflacionárias que o câmbio poderia trazer ao país, sobretudo após o BC explicitar sua preocupação com a alta dos preços.

A prévia da inflação oficial de março, o IPCA-15, mostrou que os preços subiram 6,43 por cento no acumulado em 12 meses, variação muito próxima dos 6,5 por cento que são o teto da meta do governo. No relatório trimestral de inflação divulgado pelo BC nesta quinta-feira, a própria autoridade monetária admitiu que a inflação ultrapassará o teto da meta oficial no segundo trimestre do ano.

"Acho mais provável o dólar colar no 2,05 reais do que voltar para 1,90 real, como muita gente tem falado. A grande dúvida para mim é quanto o BC vai ser peitudo na venda (de dólares) pela questão da inflação", afirmou Rezende, da CGD Investimentos, referindo-se à disposição do BC de intervir no mercado para puxar o dólar para baixo.

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