A Movile, dona de marcas como iFood e Playkids, anunciou nesta quinta-feira (12) a maior rodada de investimento da sua história. A empresa recebeu um total de US$ 124 milhões, o que a gabarita para assumir a liderança no setor de delivery, no Brasil e em outros países onde atua. O anúncio reforça, para a comunidade internacional, a imagem do Brasil como um local atraente para se investir em startups.
A rodada foi liderada pelo fundo global Naspers, com sede na África do Sul, que investe na Movile desde a série B, há dez anos. O brasileiro Innova Capital, outra parceira antiga da Movile, também participou do investimento.
O valor situa a Movile no topo da lista de investimentos feitos no Brasil. Para se ter ideia, a transação mais alta realizada no ano passado (2017) foi de R$ 550 milhões (cerca de US$ 140 milhões, em valores atuais), na venda da petroquímica quantiQ da Braskem para o fundo Advent Internacional. A estimativa é da Associação Brasileira de Private Equity & Venture Capital (Abvcap). No início deste ano, a Nubank recebeu US$ 150 milhões em uma rodada liderada pelo DST Global.
Com cerca de 1.600 funcionários (e querendo contratar mais 600), a Movile tem uma estrutura que comporta mais de 20 empresas. São marcas como iFood, Sympla e PlayKids (espécie de Netflix dos programas infantis).
Em nota, a empresa dá indicativos de que o investimento deve ser pulverizado em diferentes marcas. Mas todas com vistas a consolidar o setor de delivery, em especial na área de alimentação.
“Ao concentrar nossa energia nos segmentos de logística, tickets e pagamentos, aumentaremos o potencial de escalabilidade do iFood, Sympla e Zoop e iremos impactar as experiências diárias de ainda mais clientes”, declatou o COO da Movile, Helisson Lemos.
A Zoop, primeira fintech do grupo, foi adquirida graças ao aporte anterior (de US$ 82 milhões), recebido pela Movile em dezembro do ano passado (2017). É uma plataforma de pagamentos e serviços financeiros “as a service” (como serviço) voltada a desenvolver serviços financeiros para outras empresas.
Já a Sympla é uma plataforma de eventos utilizada, por exemplo, na venda de ingresso para shows. A Movile já investiu mais de R$ 28 milhões na startup, que tem um funcionamento à parte (e, só no ano passado, transacionou mais de R$ 200 milhões dentro).
A prática da Movile de comprar e aportar dinheiro em outras startups — pouco comum no Brasil — é observada com atenção pelo mercado internacional. O site Techcrunch, um dos maiores veículos especializados em startups do mundo, compara à lógica das startups chinesas (um dos mercados mais atraentes do momento).
Outra aquisição da Movile que chamou atenção foi a da colombiana Mercadoni. A startup tem funcionamento similar ao iFood, de delivery, mas com um foco mais amplo do que o setor de alimentação.
Desde a sua fundação, a Movile já captou mais de US$ 375 milhões. Somadas, suas marcas somam mais de 100 milhões de usuários ativos mensalmente. A empresa atua no Brasil, Estados Unidos, França, México, Colômbia, Peru e Argentina.
Exemplo para a América Latina
“Nós também queremos ser um exemplo na América Latina, mostrando às startups que há espaço aqui para crescer local e globalmente”, declarou o CEO da Movile, Fabricio Bloisi.
O anúncio da Movile fortalece a impressão crescente dos investidores estrangeiros de que o Brasil é um bom lugar para se investir em startups. O tema ganhou destaque com a publicação, no início do mês, de uma reportagem do Financial Times que fez um panorama de como as startups brasileiras desafiam o cenário de crise no país.
O veículo elencou as principais cidades do mundo com grandes rodadas de investimentos. São Paulo ficou em 11º, atrás apenas de representantes dos Estados Unidos, China, Índia, Inglaterra, Alemanha e Holanda. E à frente de hubs conhecidos como globais, como Tel Aviv, em Israel.
Só este ano, o país já teve três startups que entraram para a lista de unicórnios (avaliadas em mais de US$ 1 bilhão): Nubank, 99 e PagSeguro. A TechCrunch já coloca a Movile na porta de entrada desta (já nem tão seleta) lista.
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