Lentidão
Contador passou três meses sem o carro
O contador Onildo Chaves de Córdova, de Fazenda Rio Grande, na região metropolitana de Curitiba, teve de esperar quase três meses para voltar a dirigir o seu Peugeot 207. Em abril do ano passado, ele levou o veículo à revendedora Le Lac, em Curitiba, para corrigir o estrago de uma colisão com outro veículo. "Quando liguei reclamando da demora, os funcionários responderam que estavam com muito serviço e que a estrutura da loja não comportava uma demanda tão intensa", relembra.
A forte demanda naquele mês, que só acentuou depois, é confirmada por José Tobias Piasson, gerente de pós-venda da Le Lac. No entanto, segundo ele, outros fatores combinados estenderam o prazo final para a entrega do carro. O principal deles é um argumento usado por todas as oficinas pesquisadas: a lentidão da seguradora no processo de liberação de veículo sinistrado. "Na verdade, os dias úteis trabalhados consumiram um mês e meio de serviço.
O restante dos dias se deve aos fins de semana e à burocracia da companhia seguradora", justifica o gerente. A mudança do setor de funilaria da concessionária para um local mais amplo, na época, também contribuiu para o atraso.
Paciência
Ao que parece, o atendimento aos sinistros torna-se um grande teste de paciência para o proprietário do veículo. Acionar o seguro para arrumar um automóvel significa ficar sem ele por pelo menos um mês. "Às vezes, o perito que faz a vistoria aparece na concessionária antes do carro", ressalta Ana Maria Samila, coordenadora de qualidade no pós-venda da Ford Center, que registra um volume mensal de 150 serviços dessa natureza. Segundo ela, um veículo sinistrado que entra na loja dificilmente sai antes de 60 dias.
A fila de espera para ter o carro de volta também vem sendo agravada pela falta de peças, especialmente importadas. Veículo estrangeiro sempre foi sinônimo de escassez de peças de reposição, especialmente as de baixo giro de mercado ou que precisam vir de fora do país. Com o aquecimento nas vendas de automóveis, esse problema aumentou. Tanto no segmento de luxo como no de modelos mais acessíveis, a espera por componentes pode ser longa.
Segundo as concessionárias, os problemas maiores ocorrem com as marcas Hyundai, Kia, Toyota e Renault. Peças importadas, como componentes do painel e airbag, podem demorar entre 20 e 30 dias para chegar da Europa e da Ásia, mas há casos de espera maior.
A frota da empresa curitibana Montaine Participações Ltda. está desfalcada de um Hyundai Tucson desde o início de janeiro, quando o carro se envolveu em um acidente e foi parar no pós-venda da concessionária Sevec, em Curitiba. Após duas semanas para a liberação da seguradora, o conserto teve início, mas logo foi paralisado por falta de peças. "Parece que são duas ou três que teriam de vir da Coreia do Sul [país de origem da Hyundai]. A demora acabou se estendendo por mais 45 dias", conta Marco Túlio, representante da Montaine.
O pedido do exterior não é confirmado por William Amaro, supervisor de Sinistro da Sevec. Ele esclarece apenas que a peça em falta é o protetor de calor do escapamento. "Nunca havia solicitado esse componente antes, é a primeira vez. Ele tem um giro muito baixo", justifica o funcionário. O supervisor diz que um pedido para a fábrica de Anápolis, em Goiás, demora de 15 a 20 dias para ser atendido. Quando a peça vem de fora, esse prazo aumenta 10 dias, em média.
Montadoras
O problema com as peças importadas atinge até mesmo as montadoras. A fabricante de caminhões Volvo teve de esperar até quatro semanas para receber componentes de trem de força da Europa no ano passado. "O verão na Europa e a demanda fizeram com que o tempo de espera fosse maior", afirma Paulo Turci, diretor de autopeças para a América do Sul. Para evitar esse tipo de dificuldade, a fabricante resolveu nacionalizar alguns componentes, como caixa de câmbio e motor de 11 litros. Também vai abrir um centro de distribuição de peças ao lado da fábrica de Curitiba, com o dobro da capacidade do atual.
As peças nacionais também causam dor de cabeça, mas em menor grau. No ano passado, a maior dificuldade foi a falta de pneus. "Algumas concessionárias tiveram de comprar pneus no mercado porque os caminhões vinham de fábrica sem o equipamento", lembra Luís Antonio Sebben, diretor regional da Fenabrave. O apagão de pneus, porém, não voltou a se repetir nesse início de ano.
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