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Produção de riquezas

Doze meses em nove. Será possível?

Analistas falam em queda de 30% nas vendas para a China neste ano, maior comprador do Brasil | Henry Milléo/ Gazeta do Povo
Analistas falam em queda de 30% nas vendas para a China neste ano, maior comprador do Brasil (Foto: Henry Milléo/ Gazeta do Povo)

O novo conjunto de incentivos fiscais e creditícios, anunciado nas últimas semanas e apelidado pela equipe econômica do governo federal de estímulo "na veia", foi desenhado para garantir ao país um crescimento de, no máximo, 4% este ano. A meta da presidente Dilma Rousseff era de 4,5%. A ordem agora é pisar fundo no acelerador e fazer o Brasil crescer o equivalente a 12 meses em nove. O fato é que, passado o primeiro trimestre e iniciado o segundo, o país tem pouco tempo.

Para o economista-chefe do banco ABC, Luis Otavio Leal, atingir a meta da presidente "beira o impossível". O Brasil teria de manter um ritmo chinês nos próximos nove meses. Pelas estimativas do economista, o PIB terá aumentado apenas 0,7% no primeiro trimestre do ano, o que significa que ainda teria de acelerar cerca de 2,25% por trimestre até dezembro. "Trata-se de uma taxa anualizada de 9,3%. Nem a China está conseguindo isto este ano. As estimativas oficiais para o primeiro trimestre naquele país são de algo entre 8,2% e 8,4% anualizados", pondera Leal.

A avaliação é que o desempenho do primeiro trimestre teria ficado próximo de zero e, sem novas ações, seria impossível sequer se aproximar da meta da presidente para o período, desafio que parece estar se tornando cada vez mais distante, segundo agentes do próprio governo. O crédito não aumentou como se esperava. A indústria também reduziu o ritmo de trabalho nos primeiros três meses do ano. A atividade do setor, após pequena expansão nos últimos dois meses de 2011, teve retração acentuada de 3,4% no primeiro trimestre de 2012, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

A opção pelo novo pacote concentrado em desonerações fiscais e novas linhas de crédito mais baratas foi feita depois que o governo viu que a economia não estava respondendo na velocidade esperada aos estímulos concedidos no ano passado. Nem mesmo à redução da Taxa Selic, que caiu de 12,5% ao ano em agosto de 2011 para 9,75% ao ano na reunião de março do Comitê de Política Monetária (Copom).

Impasse

Com as taxas de inadimplência em níveis elevados, os bancos privados vinham emprestando menos. Nos últimos meses, perderam 1,2 ponto percentual na sua fatia de empréstimos totais, espaço que foi ocupado pelos bancos oficiais, que hoje representam 43,6% do total. É em cima da inadimplência, aliás, que as instituições vêm conversando com o governo federal, exigindo algumas contrapartidas, como mudanças na recente legislação do Cadastro Positivo, para mexerem em suas taxas. Mantega e sua equipe econômica, no entanto, já afirmaram várias vezes que o lucro presente dos bancos já é suficiente para a redução dos juros.

Exportações

Diante do crescimento menor do que o esperado para a China este ano e a crise na zona do euro, o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior trabalha com um resultado para balança muito pior do que o de 2011, ainda que os números dos primeiros três meses reflitam os bons preços das commodities.

Esta seria a razão para não ter divulgado até agora suas projeções para o comércio exterior este ano, segundo fontes do governo. Já se fala em queda de 30% das vendas para a China, hoje maior comprador do país e responsável por 15% das vendas brasileiras no primeiro trimestre.

Segundo o presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro, as novas medidas são um conjunto de "paliativos". "A desoneração da folha ajuda, mas representa queda de 1,5% sobre o faturamento. Ainda está longe de compensar a defasagem de 20% do câmbio."

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