A disparada do dólar observada desde que o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, sinalizou a possibilidade de encerrar o programa de swaps no fim deste ano se sustentou nesta semana, ainda que a cotação tenha sido influenciada também por outras variáveis internas e externas. O programa, que funciona como operações similares à venda de dólares diária, serve para dar proteção aos agentes econômicos e teve início em agosto do ano passado.
Mesmo que algum novo repique possa ser verificado com uma oficialização do fim da "ração diária", o fato é que a moeda saiu da casa dos R$ 2,50 e agora gravita próxima de R$ 2,60. Ao mesmo tempo, o anúncio dos principais nomes da equipe econômica de Dilma Rousseff no fim de novembro acalmou o mercado em um primeiro momento, mas está longe de ter eliminado a pressão.
Passada uma semana da indicação de Joaquim Levy no Ministério da Fazenda e da permanência de Tombini no BC, as dúvidas dos investidores sobre a política cambial para 2015 mantêm a oscilação - leia-se "nervosismo" - em alta nos negócios com dólar.
"O mercado de dólar está muito volátil. Você olha o gráfico todo dia e o porcentual entre a mínima e a máxima da moeda é sempre maior do que 1%", destacou o gerente de câmbio da Correparti Corretora, João Paulo de Gracia Corrêa. "Há muitas dúvidas sobre o que será feito na área fiscal, sobre a questão da Lei de Diretrizes Orçamentárias e sobre o futuro do programa de swaps."
No caso do câmbio, uma parte da tensão está ligada ao programa de swaps. Quando Tombini afirmou, ao lado da nova equipe econômica, que o "estoque de derivativos cambiais ofertados pelo BC até o presente momento já atende de forma significativa à demanda por proteção cambial na economia", a moeda disparou. A fala foi a senha para que investidores comprassem dólares no mercado futuro, em meio à leitura de que em 2015 o BC pode não continuar com os leilões diários.
Modulação
O problema é que o próprio Tombini, posteriormente, negou que tivesse anunciado o fim da ração diária. Sem saber para que lado pende o BC, o mercado segue à espera de novidades. "O mercado tem dúvidas sobre a questão da autonomia em relação a Dilma Rousseff, mas respeita o Tombini", avaliou João Medeiros, diretor da corretora Pionner. "Só que a gente não tem estabelecido, efetivamente, o que o governo vai fazer. Passada a euforia, o mercado volta à realidade."
No evento do Palácio do Planalto, Tombini destacou os efeitos positivos do programa ao mercado, que já chega a US$ 106 bilhões. "Depois do pronunciamento, o mercado entendeu que o programa ia acabar, e o câmbio teve uma resposta adequada", comentou o economista-sênior do Besi, Flávio Serrano. A elevação de acordo com ele, nem foi tão expressiva nos dias seguintes, porque faltaram informações adicionais que subsidiassem a tendência da moeda. "É difícil o mercado assumir uma direção mais clara para um lado ou para o outro, porque incorpora ainda incertezas."
Para ele, embora existam dúvidas, aparentemente o mais provável é que esses leilões diários se encerrem em dezembro. Apesar de árido, o tema foi parar até no debate eleitoral na disputa do cargo à presidência da República. O ex-presidente do BC e principal articulador econômico da campanha de Aécio Neves, Arminio Fraga, chegou a dizer que se o PSDB vencesse a eleição e ele assumisse como titular da Fazenda, o programa estaria com os dias contados. Mas a indefinição sobre os swaps ainda pode gerar muita volatilidade para a moeda, justamente em um mês em que, sazonalmente, a cotação costuma ser distorcida, entre outros fatores, por conta do aumento de remessas de lucros e dividendos de empresas brasileiras para suas matrizes no exterior.