Os atores Malin Akerman (Silk Spectre), Billy Crudup (Dr. Manhattan) e Jackie Earle Haley (Comediante) em cena de Watchmen: campanha multimídia antecedeu o lançamento do filme, baseado em um clássico dos quadrinhos dos anos 80| Foto: Divulgação

Plataformas

Alguns exemplos de histórias contadas a partir de várias plataformas.

Guerra nas Estrelas – Apareceu no cinema em 1977 e gerou uma série de produtos – obras criadas por fãs, RPGs para PC e Xbox e uma série de tevê.

Pokémon – O RPG para o videogame portátil GameBoy sobre rinhas de animais fantásticos ganhou vulto e popularidade na tevê e cinema.

The 39 Clues – A iniciativa da editora Scholastic, a mesma de Harry Potter, é uma imensa série de mistério em 10 livros, em que cada um traz pistas que levam para o mundo real, passam por um jogo online e cards colecionáveis.

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Em alguns anos, tudo se tornará transmídia

O pesquisador Henry Jenkins tem um currículo invejável – além de diretor do programa de mídia comparativa no Instituto de Tecnologia de Massachussets (MIT), ele é autor de nove livros que lidam com as relações entre mídia e consumo.

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A carinha sorridente amarela respingada com uma gota de sangue é só o ponto de partida. A partir dela, descortina-se não só um universo de super-heróis decadentes e de superpoderes usados como armas militares, como uma série de pequenas histórias paralelas que acontecem independente umas das outras e em formatos diferentes. Juntas, todas essas narrativas contam uma história que dificilmente teria o mesmo impacto caso contada de forma linear.

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Watchmen, a clássica série em quadrinhos cuja aguardada adaptação chegou aos cinemas na sexta-feira passada, é um dos muitos exemplos de um novo tipo de ficção – a narrativa transmídia, que usa diversas formas de comunicação. Nem tudo na história original de Alan Moore e Dave Gibbons era contado em forma de quadrinhos – cada episódio terminava com páginas que poderiam trazer um capítulo de um livro fictício, o prontuário médico de um dos personagens, recortes de páginas de jornal.

Mas com a internet e a digitalização das mídias, essa narrativa que acontece em diferentes plataformas aos poucos vem deixando nichos e tomando conta do mercado de entretenimento. Sites, celulares, redes sociais, games, aplicativos e blogs – peças-chave da cultura digital – são hoje responsáveis por expandir universos criados em livros, filmes, histórias em quadrinhos e programas de tevê.

Vamos ao exemplo de Watchmen, que contou com uma maciça campanha multimídia. Uma das primeiras ações veio com um blog que entrou no ar em julho de 2007, assim que o longa teve seu elenco confirmado e o início das filmagens estava engatilhado. Recheado de informações e conteúdo como minidocumentários que revelavam os bastidores da adaptação, o site destrinchou toda a produção e, por tabela, tranquilizou os fãs da série de Moore e Gibbons. Com o tempo outros sites oficiais chegaram e o diretor Jack Snyder abriu ao público a oportunidade de produzir comerciais de TV para os produtos da "Veidt Enterprises", empresa do magnata Ozymandias, personagem da HQ e também do filme.

A partir do site do tabloide The New Frontiersman, leitura favorita do personagem Rorschach na história original, uma gigantesca quantidade de material complementar foi despejado na rede. A ação envolveu ainda sites sociais como Flickr, Twitter e YouTube. A boa ideia aqui foi que tudo convergia para o agregador FriendFeed, uma central da campanha online juntamente com o site oficial. Mas tinha muito mais: virais incríveis, um divertido game arcade, conteúdo para o mundo virtual do PlayStation 3, roupas para avatares, etc.

O elemento participativo da narrativa transmídia reside no fato de que a história original pode ser ampliada à medida que a experiência possa ser provada em diferentes meios – e isso não quer dizer que esses enredos paralelos tenham que se encontrar num ponto final. "A convergência ocorre dentro dos cérebros de consumidores individuais e em suas interações com outros", explica o teórico Henry Jenkins, criador do termo "narrativa transmídia" em seu livro Cultura da Convergência, lançado no Brasil pela editora Aleph.

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