Os quase 600 shoppings de todo o país passam por uma fase de retomada, após um período crítico de cinco anos, mais especificamente entre 2012 e 2016. Foi uma fase de declínio significativo da produção, quando a vacância no mercado teve índices gradativos entre 2,4% e 4,5%. De lá para cá, foram abertos mais de 100 centros de compras e mais de 5 milhões de metros quadrados de lojas, porém, com cerca de 40% dos espaços vazios.
Esta vacância gerou impactos muito negativos para o setor, na avaliação de Manuel Puig, partner de varejo da Cushman & Wakefield, consultoria que faz o mapeamento de espaços comerciais. “As incorporadoras fizeram negociações com âncoras, mas sentiam enormes dificuldades de fechar contratos com lojas satélites [de menor porte]. Criou-se um círculo vicioso e muitos shoppings já inauguraram com imagem de pouco sucesso, por estarem com boa parte de seus corredores vazia.”
Nestes seis primeiros meses de 2018, foram abertos 5 novos shoppings no Brasil e há outros 18 previstos. O momento é muito bom para as negociações. Os varejistas ganharam poder de barganha, pois os shoppings se viram obrigados a reajustar as condições, destaca Puig.
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“Diferentemente de ciclos de desenvolvimento, no qual este poder está do lado do incorporador, estamos em uma fase na qual a janela de oportunidades está aberta para o lojista. Houve uma conscientização de que é preciso apresentar contratos com melhores condições.”
Uma destas condições é sobre a cobrança do preço do aluguel, por exemplo. Conforme a curva da vacância aumentou nos últimos anos, o valor inflacionou. O metro quadrado que custava em média R$ 74,57, em 2011, antes de ingressar no período mais crítico, chegou a R$ 92 em 2015 (+24%), com queda para R$ 83,79 em 2016, quando começou a fase de retomada.
Confiança e incentivo ao consumo faz voltar a aumentar fluxo nos shoppings
Um levantamento da FX Retail Analytics mostra a volta dos brasileiros aos shoppings, que em 2017 tiveram tráfego de 463 milhões de pessoas por mês, em média. De janeiro a maio de 2018, houve um crescimento de 6,03% no fluxo, em relação ao mesmo período do ano passado. Nos cinco primeiros meses de 2016, por exemplo, o índice era de queda de 5,29% no comparativo com mesmo período do ano anterior.
Em 2017, não houve variação na comparação com 2016. “O setor varejista teve um aumento de 2,1% no volume de vendas em 2017, motivados pelo aumento da taxa Selic, incentivo ao consumo com a liberação de FGTS pelo governo e aumento nos índices de confiança do consumidor, retomando o consumo das famílias, apesar das incertezas nos cenários político e econômico”, aponta.
A Associação Brasileira de Shopping Centers (Abrasce) estima um crescimento de cerca de 6% este ano, em relação a 2017, chegando a um faturamento de R$ 178 bilhões. A entidade prevê uma expansão de 2% no número de lojas em operação – hoje são cerca de 100 mil lojas, para um 2018 ainda de desafios, como afirmou em comunicado o presidente da Abrasce, Glauco Humai. “Não será um ano maravilhoso, porque ainda temos várias dificuldades no âmbito político e econômico, mas esperamos uma evolução.”
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Com aposta no entretenimento quem ganha é o ramo da alimentação
O entretenimento é o que diferencia um estabelecimento de outro e é a principal aposta dos shoppings para atrair os consumidores. Por isso, o momento é ainda melhor para quem atua no ramo do sempre aquecido segmento da alimentação. O restaurante de comida saudável Veg e Lev, que iniciou as operações em 2015, prepara seu plano de expansão de olho nesse nicho, após seus três anos de experiência com uma loja de rua, na Alameda Prudente de Moraes. No final de 2017, o empreendimento testou a abertura da primeira unidade em shopping, no Pátio Batel, na capital paranaense.
Com resultados acima do esperado, inaugurou mais uma loja em abril de 2018, esta no Shopping Curitiba. “Estes modelos mais enxutos e dinâmicos se mostraram bem mais lucrativos do que o formato de restaurante na rua”, afirma o sócio-proprietário Almiro Neto. Segundo o empresário, o faturamento do primeiro mês das lojas localizadas no Pátio Batel e Shopping Curitiba, foi 54% e 30% maior que a média da matriz, respectivamente. Ao todo, a marca pretende abrir ao menos 16 unidades em shoppings nos próximos três anos.
Com os esforços dedicados exclusivamente aos shoppings, o Veg e Lev tem negociações adiantadas para abertura, a partir de 2019, em estados como Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, revela Neto. “Queremos levar nossa filosofia à maior quantidade de pessoas possível, democratizando e pulverizando o estilo saudável de alimentação, mundialmente em alta. Por isso decidimos apostar em shoppings e nos preparar para lançar um modelo de franquia consistente.”
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Shopping é mina de ouro para uma das maiores redes de restaurante do país
Desde o início, em 2005, o Grupo Madero percebeu nos shoppings a melhor oportunidade para investir, pelo fluxo, segurança e comodidades, como estacionamento. A empresa não se deixou abalar com a crise e manteve a abertura de unidades entre 2012 e 2016. Foram 80 novas operações em 12 estados, sendo 48 em shopping. “O mercado de shopping mudou muito e está se reinventando. A aposta é o entretenimento, onde nós entramos. De um modo geral, as negociações estão facilitadas e o boleto final é diferente”, afirma o vice-presidente, Rafael Mello.
Hoje, o grupo tem 140 lojas, entre Madero, Jerônimo, Vó Maria e A Sanduicheria, sendo 60% delas em shoppings. Em 2017, o grupo inaugurou um total de 32 operações e faturou R$ 510 milhões. Para este ano, estão previstas pelo menos 30 novas operações e um crescimento de cerca de 60% em relação ao ano passado, com um volume de mais de R$ 800 milhões em vendas. Os executivos do Grupo Madero acreditam na recuperação do país até o primeiro semestre de 2019 e têm um projeto de expansão acelerado para o período, com a meta de abrir mais 80 unidades no país, pelo menos 70 delas em shoppings.
“São números muito expressivos, visto que outras empresas têm inaugurado cinco operações por ano, em média. Somos a companhia que mais cresce e chegamos a um patamar que muitos shoppings nos pagam para estarmos lá como âncoras, bancando por exemplo parte da instalação ou até inteira, para ajudar a alavancar ocupação e vendas”, destaca Mello. Mesmo para marcas menos consolidadas, Mello vê um bom horizonte. “Muitas lojas fecharam e vários pontos estão disponíveis. Mas é preciso entender que o momento é outro. O negócio tem que agregar e mais do que nunca é fundamental que haja fluxo de caixa para sustentar o fôlego.“
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