Em que país você vive? Naquele que está crescendo na faixa dos 7% um número mais preciso será conhecido hoje, quando o IBGE divulga o PIB do trimestre ou naquele que se assusta com as notícias sobre a economia europeia? Essa é a pergunta que muitos investidores estão fazendo a si mesmos nos últimos dias, enquanto veem o preço das ações desabar. Para alguns observadores, esse momento traz uma boa chance de comprar ações a preços baixos e aproveitar a valorização que (na opinião deles) há de vir.Nos últimos dois meses, desde 8 de abril, o índice Ibovespa caiu 14,7%. Alguns papeis caíram ainda mais, deixando a impressão de que estão baratos demais, ainda mais com a economia nacional em fase de amplo crescimento. Por que então baixaram tanto?
A resposta nasce da crise americana de 2008 e passa por um desvio na Grécia de 2010. Investidores do mundo inteiro ainda não estavam plenamente recuperados das perdas sofridas no primeiro episódio, e já estavam às voltas com outro problema grave as dificuldades enfrentadas pelo país europeu na área fiscal, com consequências para toda a Europa. Decidiram, então, refugiar-se em ativos mais seguros, iniciando uma debandada internacional que levou volumes imensos de recursos do mercado de ações para títulos do governo americano. Foi isso que fez cair os preços das ações.
Aí entra a pergunta que abre este texto. Os pessimistas talvez acreditem que as ações brasileiras serão arrastadas nesse turbilhão e demorarão demais para se recuperar, tornando o investimento em ações, a essa altura, uma investida arriscada e de longuíssimo prazo. Os otimistas preferirão olhar para os números do PIB e da demanda interna. Quem tem razão?
Nastássia Romanó Leite de Castro, economista da corretora Omar Camargo, acredita que o risco de a crise europeia "contaminar" a economia brasileira é bastante baixo. "O impacto é restrito", resume. Segundo ela, o fato de os países ameaçados pela crise (além de Grécia, há ainda Portugal, Espanha, Itália, Irlanda e a recém-chegada Hungria) responderem por menos de 5% do comércio exterior do Brasil é um sinal de que pouco temos a perder com os problemas de lá. "O nosso crescimento é fortemente marcado pela demanda interna, e essa esta aquecida", diz.
Com isso, a perda na renda variável pode até ser intensa, mas não vai durar. "O investidor tem de comparar a realidade com as circunstâncias", pondera Mário Silva de Almeida, da Gradual Investimentos. "Olhando com cuidado para o mercado e comprando aos poucos, é possível encontrar oportunidades excelentes", afirma. Isso não quer dizer que os investidores estejam a salvo de percalços: o sobe-e-desce deve continuar por mais um bom tempo. "É uma opção para médio prazo", diz Almeida.
Essas oportunidades estariam em segmentos capazes de se beneficiar da demanda interna ou de segmentos no mercado internacional que estão imunes à crise europeia. O primeiro deles é o da construção civil, que está crescendo com a abundância de crédito no país. Empresas do segmento sofreram desvalorização nas últimas semanas e podem, agora, estar muito baratas. Ele aponta a construtora paulista EZTec como uma das que estão com valor de mercado baixo demais. Segundo relatório da Gradual, os papeis da empresa, que ontem fecharam a R$ 7,85, têm potencial para chegar a R$ 11,60 possibilidade de alta de 47%, portanto.
A gestora Daniella Marques, da gestora de recursos Oren Investimentos, também vê boas perspectivas para o setor diante da projeção de um ano recorde de vendas. Segundo ela, outros setores que podem dar bons resultados incluem o varejo, mineração e siderurgia. "A Gerdau, por exemplo, tem metade do seu faturamento proveniente de unidades nos EUA", diz. "Ela tem tudo para crescer com a retomada da construção civil lá, no pós-crise."