Tudo está como era antes. No relatório Focus divulgado ontem pelo Banco Central (BC), a expectativa do mercado para a taxa básica de juros no fim deste ano recuou para 11% ao ano o mesmo porcentual cravado na primeira semana do ano. Trata-se de estimativas, que podem ou não realizar-se. Mas quem acompanha de perto está tentando antecipar movimentos futuros do mercado, em busca de caminhos que possam aumentar sua rentabilidade.Nesse caso, uma reversão na tendência de alta para a taxa Selic (que está atualmente em 10,75% ao ano) poderia mexer com a rentabilidade da renda fixa aplicações como CDBs e papéis do Tesouro Direto, entre outros. A dúvida, entretanto, é se uma mudança a essa altura seria suficiente para justificar uma mudança na estratégia dos investidores.
O economista Jackson Peters acredita que não. "Pode até fazer uma diferença agora a escolha entre uma aplicação prefixada e uma pós-fixada, mas essa variação seria muito pequena, principalmente para quem segue uma estratégia de longo prazo", diz. É uma opção para quem tem, como diz o economista, "veia de trader" aquele investidor que opera nervosamente com ações. "Quem começa a chutar sem ter muito conhecimento corre o risco de ser engolido pelo mercado. Sai do controle, vira especulação." Melhor, para ele, é escolher uma forma de atuação e manter a disciplina. O mercado, observa, costuma premiar mais a disciplina do que a ousadia.
Inflação
A queda nas expectativas da Selic está ligada à decisão do Comitê de Política Monetária do BC de não elevar a taxa de juros na última reunião, realizada em 21 de julho. Segundo a ata divulgada dias depois pela instituição, ela foi tomada porque as pressões inflacionárias estão desaparecendo. Com isso, o BC não precisaria mais elevar os juros.
Para o professor José Guilherme Vieira, da Universidade Federal do Paraná, essa tendência não está tão clara assim. "Há setores da economia que estão bastante aquecidos, e não há evidências tão claras assim de que a inflação está sob controle", observa.
Sendo assim, existe a possibilidade de o BC ser forçado a alterar novamente sua estratégia de política monetária. O resultado disso poderia ser uma nova alta de juros nos próximos meses depois das eleições, por exemplo. O clima eleitoral costuma influenciar as expectativas do mercado, mexendo principalmente com as cotações do dólar, em especial se investidores estrangeiros reagirem a algum risco político tirando dinheiro do país. Isso aconteceu em 2002, por exemplo. "Não estamos seguros de que a inflação está controlada e não estamos seguros de que não possa ocorrer alguma alta no câmbio", resume Vieira.
Por isso o economista sugere que as aplicações pós fixadas (CDBs e Letras Financeiras do Tesouro, que podem ser compradas via Tesouro Direto) podem ser boas opções. Nesse caso a remuneração das aplicações acompanharia qualquer mudança que venha a ocorrer na política monetária. Isso vale, entretanto, para novas aplicações. "Quem já tem seu dinheiro aplicado em renda fixa ou caderneta de poupança não deve mudar de aplicação por causa desses fatores", comenta. Mudanças como essa têm custos, e a diferença de rendimentos pode não compensar uma transferência de recursos.