Menos sono pode significar mais produtividade. Mas não necessariamente salários melhores| Foto: MIKI Yoshihito/ Creative Commons

Menos colchões, mais lazer

"A indústria de colchões seria devastada. Não vou gastar um monte de dinheiro num lugar onde não vou passar muito tempo." Essa é uma das conclusões da jornalista Megan Mcardle, da Newsweek e do site The Daily Beast, que se preocupou em analisar como a pílula que acaba com o sono afetaria a economia pelo lado da demanda.

Ela também argumenta que a indústria de lazer se tornaria 24 horas, com bares e restaurantes funcionando inclusive nas primeiras horas da manhã, quando normalmente estão fechados porque a maioria de nós está dormindo.

Outro impacto seria no serviço de saúde. "As pessoas ativas terão mais eventos de saúde no meio da noite." Se médicos e hospitais funcionarem nos horários tradicionais, todas essas pessoas acabariam no setor de emergência.

Em geral, as pessoas também procurariam trabalhar mais para passar um tempo longe da família, pressupõe ela. "Mesmo um casal apaixonado com duas crianças adoráveis não necessariamente quer passar 14 horas por dia junto."

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Lançado nos Estados Unidos há mais de uma década, o Modafinil é um remédio desenvolvido para o tratamento da narcolepsia. Nos últimos anos também passou a ser conhecido como a "droga do século 21" e o "o maior milagre farmacêutico pós-Viagra". Sem riscos conhecidos de efeito colateral, o remédio reduz a necessidade de sono de quem o usa. Em vez das sete ou oito horas recomendadas, um usuário pode dormir apenas duas em cada vinte e quatro horas, sem bocejos ou sensação de cansaço ao longo do dia.

O que você faria com esse tempo extra? Leria todos os livros empilhados na cabeceira? Passaria mais tempo com a família e amigos? Finalmente começaria aquele projeto com o qual sonha há anos?

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Partindo de um cenário hipotético em que a droga fosse tão acessível quanto uma garrafa d’água, economistas têm uma visão um pouco diferente do impacto do uso do remédio sobre a economia. "Os trabalhadores provavelmente alocariam esse tempo extra em atividades de lazer, mas duvido que os empregadores deixariam isso acontecer", afirmou Jon M., estudante de doutorado de Oxford, em um texto publicado no blog Sociological Speculation (sociologicalspeculation.blogspot.com) que provocou um debate entre vários economistas e jornalistas econômicos. Afinal, como seria um mundo em que a necessidade de sono é drasticamente reduzida?

Salários

Jon argumenta que, se das cinco horas extras, três fossem alocadas em trabalho e duas em lazer, no fim a conta seria positiva para trabalhadores e empregadores. "O tempo que o empregado gastaria no trabalho aumentaria de 1,8 mil horas por ano para 2,4 mil horas", afirma, levando em conta dados dos Estados Unidos, onde uma pessoa trabalha em média 8,8 horas por dia.

Por outro lado, diz ele, a democratização da pílula provocaria um aumento da oferta de trabalho, o que "causaria uma redução no valor da hora trabalhada ou um aumento do desemprego". Seria o processo inverso ao que ocorre no Brasil hoje, onde os salários têm subindo, entre outros fatores, por causa da redução na oferta de mão de obra.

No entanto, argumenta Jon, há um ganho mais importante para o trabalhador: "Provavelmente o grande salto de produtividade seria na acumulação de capital humano e no retorno que os indivíduos podem esperar dela". Um estudante aumentaria a expectativa de tempo de trabalho ao longo da vida em quase um terço. "Ele também poderá terminar a educação em menos tempo ou usar o tempo extra trabalhando, reduzindo o custo de oportunidade de uma longa educação universitária."

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Visão macro

O economista Garret Jones, da George Mason University, concorda parcialmente com a tese, mas diz que ela se limita a analisar os componentes microeconômicos. Do ponto de vista da macroeconomia, a situação seria diferente: "Todas as horas extras de trabalho tornariam o capital mais valioso, já que a linha de montagem, o caminhão de entrega e o call center agora podem todos produzir mais". Quando algo se torna mais valioso, mais pessoas tentam acumulá-lo. "E o que acontece quando a economia acumula capital? Todas aquelas máquinas extras tornam os trabalhadores mais produtivos, aumentando a demanda por trabalho e aumentando os salários."

O salário cairia inicialmente, mas isso elevaria a demanda por capital, que elevaria novamente os salários. Portanto, no longo prazo, a menor necessidade de sono teria "efeito zero nos salários". Você só trabalharia mais.