Guilherme Décourt, Mariana Marcílio, Karen Kanaan e Guilherme Caixeta Filho, a equipe da unidade paulista da École 42. Foto: Divulgação Foto:| Foto:

Engana-se quem pensa que para desenvolver softwares e entrar no universo da tecnologia é preciso ter graduação ou alguma habilidade já desenvolvida na área. Pelo menos é esta a premissa por trás do conceito da École 42, escola de programação que inaugurou no início deste mês de agosto sua segunda unidade no país, em São Paulo. A primeira foi aberta no Rio de Janeiro, no final de 2018.

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Fundada em 2013 na França e presente em mais de 15 países, a escola destaca-se por não cobrar mensalidade dos alunos e, principalmente, pela sua metodologia pouco convencional, que elimina a figura do professor, de turmas físicas e da grade de aulas.

“A pedagogia inovadora da 42 está baseada na aprendizagem ‘peer-to-peer’, na qual as pessoas aprendem e ensinam. Os participantes não têm professores ou turmas. Eles são os responsáveis por seu próprio sucesso e pelo sucesso dos companheiros em um método 100% baseado em projetos”, explica Karen Kanaan, sócia da École 42 paulista. A unidade tem outros investidores, entre empresas, fundações e pessoas físicas, que financiam o projeto, com valor estimado em R$ 15 milhões em três anos.

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De acordo com ela, o objetivo da escola é oferecer uma alternativa educacional para a formação de pessoas com escala e alta qualidade, de forma que elas se tornem preparadas para o mundo digital. Dentro deste cenário, o Brasil é estratégico para a École 42 pelo crescimento acentuado que vem registrando na área da tecnologia, além do grande potencial que apresenta no setor, como destaca Kanaan.

“Segundo a Softex, há 250 mil vagas em aberto no setor de TI [tecnologia da informação]. Em 2022, elas serão 410 mil. Por ano, o Brasil forma 20 mil pessoas em cursos ligados à computação, mas se filtramos por qualidade – os cursos com maior nota no MEC, por exemplo – temos menos de um mil profissionais”.

Como funciona o curso? 

O modelo educacional adotado na École 42 ganhou notoriedade por dispensar figuras tradicionais dos sistemas de ensino, incluindo aí a grade fixa de horários e aulas, as turmas e a própria figura do professor, e focar sua metodologia nas chamadas habilidades-chave para o mundo digital. Entre elas estão o “aprender a aprender”, a “colaboração” e a resolução de “problemas complexos”.

Sendo assim, no curso os alunos aprendem a construir softwares de maneira completamente prática em um método baseado em projetos e na gamificação. Os participantes iniciam os estudos no nível zero e seguem uma trilha de aprendizado e desenvolvimento até o nível 21, cujo encerramento rende a eles o certificado de conclusão do curso. O percurso dura cerca de três anos, em média, e os alunos precisam contar com o trabalho em grupo e com a troca de informações entre os colegas para desenvolvê-los e progredir.

“No mundo digital de hoje, o mercado está buscando um pensamento crítico e analítico, capacidade de solução de problemas, criatividade, comunicação, trabalho em equipe e colaboração, gerenciamento de tempo, profissionais autônomos e capazes. Essas são as habilidades que os alunos desenvolvem na École 42. Para progredir nos projetos, eles devem confiar na força do grupo. Aqui, eles são os responsáveis pelo próprio sucesso e de seus colegas”, analisa a sócia da escola.

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Neste sentido, a dedicação ao aprendizado é fundamental para o processo. Isso porque, segundo Kanaan, a chamada “piscina” (terceira fase do processo seletivo dos alunos, com duração de 28 dias) exige de 10 a 15 horas diárias, incluindo finais de semana. Ao final dela, são selecionados para o curso os candidatos que apresentaram o maior desenvolvimento no período. A primeira etapa da seleção, por sua vez, acontece no ambiente online, a partir da participação em dois jogos propostos. Já a segunda compreende reuniões presenciais realizadas no campus da instituição. Para se inscrever não é necessário ter formação, conhecimento prévio ou nenhuma experiência na área - basta ter 18 anos completos.

“Levamos em consideração o que a pessoa fará daqui para frente com o acesso à metodologia e ao conhecimento que obteve na 42. O que ela fez até hoje conta, sem dúvida, pois somos o resultado de uma trajetória e seguimos na construção dela, mas não determina o futuro desse indivíduo. A determinação, vontade de aprender e a resiliência contam mais do que qualquer conhecimento adquirido anteriormente”, aponta Kanaan. De acordo com ela, a intenção da École 42 é formar de 200 a 350 pessoas por ano.