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Além do PIB

Otimista, brasileiro precisa de políticas públicas que o deixem feliz, diz fundador do Congresso da Felicidade

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Gustavo Arns, 34, fundador do Congresso Internacional de Felicidade. (Foto: Divulgação.)

"Amanhã há de ser outro dia". O célebre verso musical de Chico Buarque talvez seja o que melhor representa o proverbial otimismo do brasileiro. O olhar positivo em relação à vida foi confirmado em setembro por uma pesquisa da empresa internacional YouGov, que apontou que 76% da população brasileira - a porcentagem mais alta do mundo - se diz otimista. Mas otimismo é sinônimo de felicidade?

“Otimismo tem muito mais a ver com uma crença no futuro do que no bem-estar presente. É até bastante comum que países que não estejam numa situação muito boa no presente se mostrem mais otimistas”, diz Gustavo Arns, 34, bacharel em direito, professor universitário e fundador do Congresso Internacional de Felicidade, cuja 4ª edição será neste sábado (2) e domingo (3), em Curitiba.

Mais importante que medir o otimismo, segundo Arns é mensurar a felicidade. O Relatório Anual da Felicidade, divulgado pela ONU em março, mostra que no último ano o Brasil perdeu quatro posições, tendo passado do 28º lugar para o 32º, no ranking global. O estudo leva em conta algumas variáveis como o PIB, a expectativa de vida, a liberdade, a assistência social, a corrupção, a percepção de generosidade, entre outras.

“Para mensurar o crescimento do país não é importante apenas o crescimento econômico, mas também como isso acontece: se estão sendo preservados o meio-ambiente, as tradições culturais, se estão sendo respeitadas as minorias”, afirma Arns. O conceito remonta pelo menos à década de 1960. O PIB “mede tudo, exceto o que faz a vida valer a pena”, já disse o senador americano Robert Kennedy.

O Butão, pequeno país encravado nas montanhas dos Himalaias, é mundialmente conhecido por medir a FIB, Felicidade Interna Bruta, desde 1972 e conta também com o Ministério da Felicidade. A FIB é medida pelo desenvolvimento econômico sustentável, a preservação das tradições, a proteção do meio ambiente e boas políticas públicas.

Em certa medida, o modelo butanês serviu de inspiração à Nova Zelândia, cujo governo anunciou em março um plano para colocar o bem-estar da população acima do crescimento econômico. Para isso, a primeira-ministra, Jacinda Ardern injetou bilhões de dólares na área da saúde da população e para combater os suicídios e a pobreza infantil.

No ano passado, a empresa neozelandesa Perpetual Guardian, implementou a diminuição da jornada horária de 40 para 32 horas semanais, sem redução de salário para os 240 funcionários. O resultado foi que os empregados relataram um aumento de 24% na satisfação no equilíbrio entre trabalho e vida pessoal. “A Nova Zelândia é líder nesse campo da economia do bem-estar. Transpõe esse lance do Butão para o Ocidente”, avalia Arns.

Segundo o especialista em felicidade, o Brasil deve investir em políticas públicas que vão nessa direção. “É algo que estamos precisando. O Brasil tem muitos projetos interessantes na área de educação, da psicologia, mas em sua grande maioria ainda projetos isolados”, afirma.

"O Congresso surgiu dessa ideia, de compilar diversas linhas - cultura, filosofia, ciência, arte -, falar de felicidade e trazer uma reflexão para o público", explica. Sobrinho-neto de duas figuras importantes - a médica Zilda Arns, fundadora da Pastoral da Criança, e do cardeal Paulo Evaristo Arns, que foi arcebispo de São Paulo - Gustavo diz que a formação católica foi essencial para motivá-lo na busca por espiritualidade. Segundo ele, o Congresso da felicidade se tornou uma necessidade, “nesse momento tão polarizado, tão dicotômico”.

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