Bares, lojistas, montadoras. Diga o nome de qualquer negócio e provavelmente ele ainda está procurando uma resposta sobre o real significado da aprovação do Brexit, a saída do Reino Unido da União Europeia.
Economia esfria enquanto espera a saída
Um fator crucial para o futuro do Reino Unido é se o país poderá fazer a negociação sob medida pretendida pela primeira-ministra Theresa May – a intenção é manter o acesso ao mercado único com restrições à imigração. Mas isso poderia causar impasses dos dois lados, atrasando um acordo ou até levando a uma “saída dura”, na qual o Reino Unido deixaria o mercado único de uma só vez.
“A realidade desse processo lento de saída da UE é que nós sabemos muito pouco ainda sobre a natureza dos nossos futuros acordos comerciais”, disse o diretor do Banco da Inglaterta Minouche Shafik em um evento na última quarta-feira. “A incerteza está pesando na perspectiva de investimento das empresas.”
E não é só um discurso. O Banco da Inglaterra estima que os investimentos vão cair 4% neste ano e 2% em 2017. O crescimento econômico deve cair para 0,8% no ano que vem, o que pode ser o pior resultado desde 2009.
A ansiedade pós-Brexit derrubou a libra em 13% em relação ao dólar desde o referendo, tornando a moeda a que mais caiu entre as mais importantes do mundo.
Quase 100 dias desde que foi feito o referendo, as empresas do país ainda estão no escuro. A primeira-ministra Theresa May ofereceu poucas pistas sobre sua estratégia, deixando executivos tomar decisões sobre investimentos e contratações sem saber como estará o ambiente de negócios, ou quais dificuldades o país terá para negociar com o bloco europeu e seus 500 milhões de habitantes.
“A dificuldade hoje é a incerteza”, disse o executivo chefe da Nissan, o brasileiro Carlos Ghosn, em uma entrevista à Bloomberg TV. “Quais serão as condições do Brexit?”, questionou. A Nissan produziu um em cada três carros no Reino Unido no ano passado, e cerca de 80% desse volume é exportado.
Um lembrete dos riscos envolvidos na saída do bloco apareceu na quinta-feira (29), quando a companhia de serviços Capita Plc., que administra o sistema de pedágio urbano de Londres, disse que não atingiria suas metas financeiras porque enfrentou um esfriamento nos negócios desde o referendo. Parte do problema foi relacionado a “contínuos atrasos na tomada de decisão dos clientes”, um fator que o Banco da Inglaterra também ressaltou como sendo uma ameaça.
Tal incerteza ronda uma economia que provou ser mais resistente do que o antecipado desde o junho. O Reino Unido passa por uma relação de retração com seu maior mercado para exportações e economistas esperam que a taxa de crescimento dos embarques para o mercado europeu caia pela metade no ano que vem.
“O governo não tem um plano, e até que ele decida, é realmente difícil para qualquer um se preparar”, afirmou Thomas Sampson, professor da London School of Economics. “No curto prazo, a incerteza pode causar alguma queda na atividade, mas essa é uma questão diferente do que pode ocorrer no longo prazo, quando mudaremos nossa relação com a União Europeia. Isso é o que mais me preocupa.”
Em vez de um movimento imediato para sair da UE, a abordagem do governo britânico tem sido lenta e calculada. As negociações sobre a saída formal só devem começar no ano que vem e, depois disso, devem levar dois anos para serem concluídas. Assim, qualquer pista sobre como será a nova relação está bem distante.
A rede de produtos para a casa Kingfisher disse que não notou um impacto direto em seus negócios, mas formou um grupo de trabalho para monitorar a evolução da questão. Outros estão se voltando para a ajuda externa: a demanda por consultorias cresceu 10% em relação ao ano passado.
Não são só as empresas britânicas que estão fazendo contas. A companhia aérea alemã Lufthansa está avaliando se terá de rever seus voos e modelos de aeronaves nas rotas para o Reino Unido, caso a demanda mude.
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