O corretor de seguros Clébio Goulart, usuário do Fleety: rede de compartilhamento de carros gera renda extra| Foto: Daniel Castellano/Gazeta do Povo

A popularização da internet móvel no Brasil tem mudado não só a maneira das pessoas se comunicarem, mas também de fazerem negócios e acessarem serviços e produtos. Na esteira da popularização dos smartphones e do acesso à rede pelo celular, novos modelos de negócio começam a se popularizar pelo país, conectando fornecedores e consumidores e desafiando a economia dita “tradicional”.

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Uma das mais novas plataformas a aportar no Brasil é o serviço de transporte BlaBlaCar, que iniciou suas operações no país na segunda-feira (30). Fundada na França há nove anos, a empresa oferece um aplicativo que permite a motoristas dar carona a interessados em viajar a outras cidades. A viagem é remunerada e parte do valor vai para a BlaBlaCar – modelo semelhante ao Uber, que por sua vez opera somente dentro das cidades.

A expectativa é que, a curto prazo, a popularidade dos serviços da chamada “economia compartilhada”, que também têm no site de aluguéis Airbnb um de seus principais expoentes, chegue por aqui aos níveis vistos nos Estados Unidos. Lá, segundo pesquisa da consultoria PwC , 44% dos consumidores afirmam estar familiarizados com o conceito de economia compartilhada e 19% já utilizaram esses serviços, em áreas como entretenimento, transporte, hotelaria e vestuário.

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Corretor de seguros incrementa renda com locação do carro

O serviço curitibano de compartilhamento de carros Fleety nasceu há dois anos opera hoje em Curitiba, São Paulo e Florianópolis. A startup não divulga a quantia de usuários, mas diz que tem dobrado esse número mês a mês. Por meio do site da empresa, usuários podem tanto colocar seus automóveis à disposição para locação quanto procurar veículos para alugar.

O corretor de seguros Clébio Goulart foi um dos primeiros a aderir ao serviço em Curitiba. Como trabalha em casa, ele coloca o Honda Fit 2008 à disposição de terceiros com frequência, cobrando R$ 75 por oito horas de uso – em geral, 15% do valor das locações feitas pelo Fleety vai para a empresa. Goulart diz já ter locado o veículo mais de 20 vezes, sem enfrentar problemas.

“O receio maior das pessoas é justamente o de emprestar para um desconhecido. Mas a pessoa está cadastrada (no site) e o Fleety se responsabiliza (por eventuais danos), além de eu ter seguro do carro. As pessoas ficam muito amarradas ao bem material. Se o carro está parado na tua garagem o dia inteiro, porque não emprestar?”, afirma o corretor.

Outro estudo, do banco Credit Suisse, mostra que 40% dos consumidores em países em desenvolvimentos estão dispostos a se engajar nesses novos modelos de negócios, que devem atingir juntos uma receita anual de US$ 335 bilhões em 2025, valor 20 vezes maior do que o registrado em 2013, de US$ 15 bilhões.

Esse potencial tem chamado a atenção não só de empresas estrangeiras, mas de empreendedores locais. Sediada em Curitiba, a Fleety é a primeira rede brasileira de carros compartilhados, em que donos de automóveis alugam seus carros para estranhos que precisam de um veículo por um curto período de tempo.

“A economia do compartilhamento tem um potencial absurdo e estamos só começando a explorá-la. Compartilhar é intuitivo ao ser humano e o que precisamos fazer para que isso se potencialize é quebrar as amarrações que fazem com que as pessoas não pensem assim”, afirma o CEO da Fleety, André Marim.

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Regulação

Além do desafio de convencer e agregar usuários, as novas plataformas também precisam vencer a batalha contra os legisladores. Mesmo com o potencial de “roubar” clientes de hotéis e pousadas, o Airbnb se popularizou no Brasil sem dificuldades legais e inclusive é um dos fornecedores oficiais de hospedagem para as Olimpíadas de 2016. O Uber, por outro lado, não tem tido a mesma “sorte”.

“Sempre que a tecnologia tem impulsionado uma troca radical na maneira como conduzir um negócio, a oposição a essa mudança tem sido muito forte. Desde a época da Revolução Industrial até os dias atuais, a pergunta não é se existirá uma serviço barrado por outro, mas sim quanto tempo demorará até que estes serviços sejam aceitos e em quais requisitos são regulamentados”, afirma o diretor da 4G Americas para a América Latina e Caribe, José Otero.

Falta de profissionais pode ser entrave para transição

A transição da economia tradicional para um modelo digital, em que o uso de aplicativos, computação em nuvem, softwares e dispositivos conectados ganha cada vez mais peso, aumentou a necessidade por profissionais de informática e tecnologia, como analistas de sistemas, programadores e desenvolvedores – o problema é que no Brasil a formação não tem acompanhado a demanda.

Segundo dados do Ministério do Trabalho e Emprego, o número de vagas abertas na área de Tecnologia da Informação (TI) de janeiro a junho foi 44% maior do que no mesmo período do ano passado. Só neste período, foram abertas pouco mais de 40 mil vagas na área.

“Cada vez mais a informática está sendo absorvida por outras áreas e isso faz com que esse boom de vagas aumente mais ainda. E não temos uma vazão das instituições de ensino para suprir essa demanda. Empresas hoje já estão importando profissionais de fora, da Índia e dos EUA”, afirma o coordenador do Centro de Tecnologia e Informação (CTI) da Universidade Positivo, Kristian Capeline.