A rede de lojas curitibana Procorrer, especializada em vender calçados esportivos, percebe de tempos em tempos o que o empresário Roberto Grupenmacher chama de "onda". É quando um tênis caro, símbolo de status, se torna alvo de uma demanda bem acima do esperado. Já foram três ou quatro "ondas" nos últimos dez anos a mais recente é de um modelo da Mizuno que custa R$ 999 e Grupenmacher sabe que as vendas têm motor definido: jovens de classes populares, em especial a C. Na filial que será inaugurada em março na capital, os sócios da Procorrer pensaram nesse público ao estrear uma marca americana na cidade, a Under Armour. "Como ainda é rara aqui, pode dar a impressão de que quem comprou viajou para isso", brinca.
Desejo de grife e de consumir são as características do jovem da classe C mapeadas pelo Instituto Datapopular. Filhos dos brasileiros que ascenderam em estilo de vida nos anos 2000, essa fatia da população tem poder de consumo ainda maior que o da classe alta: R$ 129 bilhões contra R$ 80 bilhões.
Eles também têm fraco por shopping centers e não estão tão interessados em consumir marcas feitas para eles. Preferem as "high end" aquelas mais caras e já estabelecidas que os colocam no mesmo patamar de um jovem de elite.
Tabu
O assunto é tabu para as marcas. Mesmo grifes paranaenses preferem não comentar o assunto, ainda que mostrem indícios claros de que se preocupam em atender a esse público.
"A segmentação é uma realidade, apesar de ser um assunto complicado. Não importa mais quanto dinheiro uma pessoa tem no banco, mas o quanto está disposta a gastar", acredita o professor de marketing Jorge Carvalho Bittencourt, do Ibmec.
É visível, por exemplo, que marcas abrem projetos de franquia e escolhem itens baratos para vender a quem não é seu público usual. Mas a falta de controle no público-alvo preocupa as marcas, como declarou o presidente do Datapopular, Renato Meirelles, na última semana. A pesquisa do instituto mostra, porém, que o jovem de classe C não poderá ser desprezado por marcas que almejam ser as primeiras no seu setor.
Por isso, ninguém está mais otimista que as multimarcas, que não têm como principal objetivo proteger o status de um nome. O grupo de óticas Winnikes, por exemplo, pretende lançar mais lojas em bairros de Curitiba, como Sítio Cercado e Pilarzinho, e aposta na venda pela internet para atender ao jovem de classe C. Segundo a empresária Tânia Winnikes, as vendas foram beneficiadas pela baixa nos preços dos óculos no Brasil, todos são importados.
"Os fabricantes avaliam que as óticas podem ter um boom nos próximos anos e quiseram diminuir a concorrência com importação. Muito por causa desse público novo e consumista", conta. Na Winnikes, já é usual a figura do jovem cliente que leva até a loja uma fotografia do modelo desejado, como o Juliet e o Breadbox, da Oakley. "Às vezes ele não encontra em lugar nenhum e pede pelo amor de Deus para encomendarmos", conta Tânia.