Com a queda dos preços internacionais do petróleo e a desaceleração da economia doméstica, que tem reduzido a demanda dos brasileiros por produtos importados, o país registrou em abril o segundo superávit comercial consecutivo neste ano, apesar do fraco desempenho das exportações. O saldo foi positivo em US$ 491 milhões, resultado muito próximo ao verificado em abril do ano passado (US$ 506 milhões).
INFOGRÁFICO: Balança se recupera no mês, mas segue negativa no ano
Governo aposta em acordos bilaterais para destravar negócios
Em tempos de vacas magras, com a economia estagnada, a balança comercial deficitária e um pacote reformulado de concessões em ferrovias, rodovias e aeroportos para “vender” aos investidores, o governo parte em busca de consultas e acordos bilaterais com outros países.
A ideia é resolver questões pontuais que travam comércio e investimentos, com a ampla participação do empresariado brasileiro, para que esses comitês bilaterais entre governos funcionem como uma espécie de juizado de pequenas causas, segundo explicou o secretário-executivo do Ministério do Desenvolvimento, Ivan Ramalho, coordenador das negociações.
O regime de consultas bilaterais teve início com a recente retomada das boas relações do Brasil com os Estados Unidos, somada à evidente recuperação da economia americana. A expectativa é que os primeiros resultados das conversas sejam conhecidos no fim deste mês, durante visita da presidente Dilma Rousseff a Washington.
Semana passada, houve uma reunião entre autoridades do Brasil e do Peru. Até a segunda quinzena de agosto, há encontros marcados com Uruguai, Argentina, Venezuela, Noruega, Chile, Paraguai, Índia, Bolívia e Colômbia. E uma possibilidade de encontro com a China.
Relações
Nesse plano de ação, que fará parte do Programa Nacional de Exportações, a ser divulgado até junho, há alguns dados que estão sendo levados em conta por técnicos do governo e representantes do setor privado. Por exemplo: foi com a Nigéria que o Brasil teve o maior déficit comercial em 2014, no valor de US$ 8,5 bilhões, devido ao aumento das importações de petróleo. Os nigerianos poderiam comprar mais do Brasil, destaca Ivan Ramalho.
O segundo maior saldo negativo foi com os EUA, de US$ 7,9 bilhões. Os americanos podem substituir parte das compras de manufaturados brasileiros que deixaram de ser feitas pela Argentina, devido à forte crise econômica pela qual passam os argentinos, sugere.
Por outro lado, a Venezuela foi, individualmente, o país que garantiu ao Brasil o maior superávit comercial, no valor de US$ 3,4 bilhões. Mergulhados em uma grande crise política e econômica, os venezuelanos preocupam os exportadores brasileiros, que temem não receber pelo que venderam aos vizinhos.
No ano, porém, a balança comercial ainda continua com forte déficit, de US$ 5,066 bilhões – resultado que é melhor, no entanto, que o saldo negativo de US$ 5,573 bilhões registrado no mesmo período de 2014.
As exportações brasileiras têm sofrido o impacto da expressiva redução dos preços dos dois principais produtos vendido pelo país lá fora: soja e minério de ferro. A venda de produtos industrializados também está em queda, vítima da desaceleração econômica da Argentina, principal mercado consumidor desses produtos brasileiros.
No mês passado, quando os embarques de soja ainda foram afetados por um incêndio no porto de Santos, as exportações totais do país recuaram 23,2%. No ano, a queda acumulada é de 16,4%.
As importações, por outro lado, também estão em queda acelerada em consequência da redução da demanda interna por produtos do exterior e da queda das cotações do petróleo. Em abril, a redução foi de 23,7%. No ano, as importações caíram 15,9%.
O déficit da chamada conta-petróleo – que computa as exportações e importações do produto e derivados – caiu para US$ 3,5 bilhões nos primeiros quatro meses do ano, ante US$ 6 bilhões no mesmo período do ano passado.
Câmbio compensa
Herlon Brandão, diretor do Departamento de Estatística e Apoio à Exportação do Ministério do Desenvolvimento, afirma que a desvalorização do real verificada neste ano contribui para melhorar a rentabilidade do exportador – que passa a receber mais reais pelos dólares das vendas –, o que compensa parcialmente a redução dos preços das commodities.
Ele frisou, no entanto, que a oscilação do preço do dólar observada nas últimas semanas compromete parte dos ganhos. “É necessário uma estabilidade do câmbio.” O governo continua trabalhando com a perspectiva de um superávit comercial neste ano, embora não faça a estimativa de quanto seria esse resultado.
A projeção, segundo ele, leva em conta a manutenção do cenário de queda de demanda doméstica, preços achatados das commodities, petróleo em baixa e desaquecimento da demanda da Argentina e da China.
No ano passado, o país registrou um deficit comercial de US$ 3,930 bilhões, o primeiro resultado negativo da balança desde 2000.
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