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Economista acredita que única chance da Espanha sair da crise é deixar a União Europeia

Brasília - A crise na Europa é seríssima e a única saída para a Espanha é deixar imediatamente a União Europeia, afirma o economista Decio Munhoz. Professor da Universidade de Brasília (UnB), Munhoz diz que, se a Espanha permanecer no bloco, será obrigada a "engolir o remédio amargo" do Fundo Monetário Internacional (FMI), que pode levar o desemprego e o empobrecimento ao país.

Entre os países do Continente Europeu que a adotaram o euro como moeda comum, a situação é mais preocupante atualmente na Espanha, em Portugal e na Grécia.

A crise, que parecia ser passageira, tem abalado os mercados financeiros de todo o mundo, provocando queda nas bolsas de valores e aumentando a aversão dos investidores ao risco.

Para Munhoz, a crise está longe de ser resolvida, já que os países ricos da Europa só admitiram a Espanha, Portugal e a Grécia no bloco econômico "porque não podiam conviver com nações pobres ao lado", deixando de levar em consideração as diferenças culturais, políticas e econômicas.

"Pressionaram para que eles [Espanha, Portugal e Grécia] mudassem para o grupo dos países ricos, com um patamar de vida mais alto, mas agora dizem a eles que terão que tomar o remédio amargo do FMI e empobrecer. Que contradição!"

O professor lembrou que, com o fim da União Soviética, os países que estavam em sua órbita, foram atraídos para a zona da euro mais por questões políticas do que econômicas. Segundo ele, o objetivo foi muito mais de ocupar espaços e, estrategicamente, manter a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), que reúne, entre outros, os Estados Unidos, a França, a Alemanha e a Grã-Bretanha, nas "barbas" da Rússia.

"Ou seja, ampliou-se o leque de nações completamente diferentes em tudo. E agora, o mínimo que poderá acontecer é ter um monte de países fora da zona do euro e um núcleo central muito pequeno na zona do euro", afirmou Munhoz.

Para ele, o "germe da desintegração" está ligado a esse problema da moeda ter paridades fixas e, paralelamente a isso, imaginar que se teria inflação e déficits orçamentários iguais, em torno de 3% em países tão desiguais. Ele explicou que, à medida que são realidades diferentes, quem tem mais problemas, como a inflação, começa a ficar mais fraco, passa a ter dificuldade para exportar e aí aumentam as importações, já que o câmbio também foi valorizado. Segundo o professor, foram impostas regras no sistema muito duras para um grupo grande de países com economias heterogêneas.

Munhoz ressaltou que o problema parece não ser tão localizado e tem consequências "imprevisíveis, tendendo a se agravar". Isso porque o atual crescimento da economia tem sido muito estimulado pela China, muito integrada à economia norte-americana. Mas a China, mesmo com o crescimento extraordinário, é uma grande economia exportadora que, por outro lado, convive com uma distorção interna brutal que é a distribuição de renda.

"É o país voltando a 1945, à Grande Caminhada de Mao Tsé-Tung [fundador e dirigente da República Popular da China, morto em 1976], em que muitos morrem de frio à noite e outros estão em apartamentos de luxo refrigerados."

Para ele, no entanto, será muito difícil manter esse modelo na China e o país se integrar à economia americana, tendo-a como mercado. Os Estados Unidos terão dificuldade de encontrar na Europa parceiros comerciais como é a China na Ásia.

Munhoz acredita que se a China se abrir ao mercado haverá recuperação, com todos exportando bastante para aquele país, incluindo os Estados Unidos que conseguiriam "colocar sua economia nos trilhos". O nó, porém, que precisa ser desatado é: se a China abrir seu mercado perde a produção destinada à exportação, agrava o problema do emprego e aumenta as distorções internas.

"Então, a coisa não está definida e está muito difícil. Além do mais, a questão econômica tem transcendência política também. Os Estados Unidos, tudo indica, para saírem desta crise têm que reacender a guerra fria, exportar canhões, e não manteiga. Porque manteiga as pessoas não têm dinheiro para comprar."

Nessa situação, o professor avalia que não há muita diferença entre o atual presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, e o antecessor dele, George Bush. "Se você colocar o corpo do Obama com a cara do Bush, não altera nada."

Para o Brasil, a saída seria o fortalecimento interno. No entanto, diz Munhoz, o mercado financeiro não ajuda por querer concentrar renda e poder. Ele acredita que o país tem condições de se vacinar contra esse tipo de problema, mas existe uma armadilha preparada pelo próprio mercado financeiro, a tomada de decisões.

Munhoz lembrou que a entrada líquida de capital estrangeiro para aplicar em papéis no Brasil, desde o início do governo passado, ficou em cerca de US$ 40 bilhões (o que entrou e saiu). Foram trazidos aproximadamente de US$ 600 bilhões a US$ 700 bilhões, mas como houve forte remessa de lucros e dividendos, sobraram US$ 350 em papéis no Brasil. "Nós estamos na mão deles e por isso jogam a bolsa para baixo, jogam o dólar para cima. Então, a nossa situação também é frágil."

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