O economista Armínio Fraga, ex-presidente do Banco Central, que apoiou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva na última eleição, estranhou os dados da agência de classificação de risco Moody´s que melhorou a perspectiva da nota de crédito do governo brasileiro.
Para Fraga, o Brasil deveria ter sido rebaixado, assim como vários outros países do mundo, como os Estados Unidos, que têm se descuidado no controle das contas públicas. Ele afirmou que o país apresenta "uma deterioração explícita, mas já muito bem percebida, no campo das finanças públicas".
“Fiquei surpreso com a decisão da Moody’s de dar upgrade ao Brasil. Essa classificação tem a ver com a capacidade de o País honrar seus compromissos externos. Mas, fora isso, acho que o Brasil deveria ter sido rebaixado. Temos uma deterioração explícita, mas já muito bem percebida, no campo das finanças públicas”, afirmou em entrevista ao Estadão, publicada nesta segunda (6).
A atual nota do país indica um risco maior para investimentos estrangeiros. Com a mudança na perspectiva, a agência sinaliza que pode elevar o rating no futuro.
A Moody's enfatizou a importância da manutenção da credibilidade do arcabouço fiscal para a "redução das incertezas a respeito da trajetória fiscal". A agência apontou que a classificação Ba2 está "baseada na força fiscal ainda relativamente fraca do Brasil, dado o nível elevado de endividamento do país e sua fraca capacidade de pagamento da dívida, que permanece sensível a choques econômicos ou financeiros".
Outra crítica feita pelo economista foi em relação ao arcabouço apresentado pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad. Segundo ele, a medida "não está dando certo" e ainda apontou que o Brasil tem apresentado uma "dificuldade escancarada" na área fiscal.
"Não tem sido uma trajetória de progresso. Não foi até agora. Fui um dos primeiros a apoiar publicamente o arcabouço que o ministro Fernando Haddad apresentou, essencialmente porque o que ele fez foi um movimento em direção contrária ao que o presidente da República vinha defendendo. Foi admirável. Mas não está dando certo", declarou Fraga. E ainda acrescentou: "O Brasil não é a Venezuela nem a Argentina, mas não há nada que sinalize que vamos entrar em um processo de crescimento mais acelerado e sustentável".
Já sobre a flexibilização do arcabouço para conter as despesas, como salário mínimo e pisos da saúde e educação, o economista avalia que a situação representa "um problema enorme de falta de prioridade do gasto público". "É um quadro frágil. Em algum momento vai ter de ser repensado, mas temo que não aconteça durante o atual governo. E temo que isso possa lá na frente gerar uma frustração econômica e uma reversão política", disse.
O economista também ressaltou que a piora das contas públicas talvez possa levar a uma reversão não só econômica, mas também política, mais à frente. “Se for uma reversão (política) moderada, tudo bem. Sair da centro-esquerda para a centro-direita. Mas se for um governo que caminha mais para a esquerda e produza uma reação para a extrema-direita, aí seria uma desgraça”, declarou.
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