A duradoura recessão brasileira se prolongou no primeiro trimestre do ano, mas ficou mais branda, segundo estimativas de economistas. As projeções de quatro analistas indicam que, nos primeiros três meses do ano, o PIB recuou de 0,7% a 0,85%, na comparação com o quarto trimestre.
Se as previsões se confirmarem, a queda será mais branda que a registrada no último trimestre do ano passado, quando o tombo foi de 1,4%. Os dados oficiais serão divulgados na manhã desta quarta-feira (1º) pelo IBGE.
O mais pessimista é Alberto Ramos, economista do Goldman Sachs especializado em América Latina, que espera queda de 0,85% frente ao trimestre anterior e recuo de 6% em relação aos três primeiros meses de 2015. Em relatório enviado a clientes, o analista destacou a sequência de trimestres sem alta, iniciada no segundo trimestre.
Para ele, o quadro configura um cenário de depressão: “A atual contração cíclica da atividade ganhou características de uma depressão, definida por uma longa recessão de pelo menos oito trimestres, que leva a uma queda acumulada do PIB de 10% ou mais”, analisou Ramos.
Luis Otavio Leal, economista-chefe do Banco ABC Brasil, espera resultado semelhante: queda de 0,8% na comparação com o quarto trimestre, mesma estimativa divulgada pela Tendências Consultoria. Leal avalia que o primeiro trimestre ainda foi marcado pela paralisia de investidores diante das incertezas do quadro político.
“Estamos falando de um trimestre que foi marcado pela discussão sobre o impeachment. Assim como todos nós ficamos parados em frente à TV vendo sessões no Senado, a economia também refletiu isso. Ninguém fez nada, sem ter a mínima ideia de quem ia ser o presidente interino ou não interino”, afirmou o economista.
Na avaliação dele, a queda menor, na comparação com o resultado do quarto trimestre, é resultado de um efeito estatístico. É, portanto, cedo para dizer que o fundo do poço foi alcançado. “Me recuso a avaliar que sair de queda de 1,4% para queda de 0,8% é algum tipo de melhoria. Você está piorando num ritmo menor, o que também não quer dizer muita coisa. Existe uma questão de efeito base. Chega uma hora que as coisas não podem cair pro resto da vida. Como um pedaço do ajuste já foi feito, o ritmo desse ajuste é menor”, acrescentou Leal.
Já Rafael Ihara, economista do banco Brasil Plural, prevê um recuo menos intenso, de 0,7% — projeção compartilhada pelo banco Fator. Ihara destaca que está na ponta otimista, com previsão de crescimento do PIB de 1,1% em 2017.
“A gente está vendo que o pior da recessão parece que está ficando para trás. Nossa expectativa é de contrações menores nos trimestres seguintes. A gente vê a possibilidade de um pequeno crescimento no último trimestre de 2016”, explicou o economista. “O setor industrial parece ser responsável por essa recuperação, enquanto serviços e comércio devem ter mais deterioração ao longo do ano”.