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Saúde

Efeito da radiação nas pessoas ainda é incerto

Recomendação é dar prioridade para mensagens e deixar o celular mais longe do rosto | Hugo Harada/ Gazeta do Povo
Recomendação é dar prioridade para mensagens e deixar o celular mais longe do rosto (Foto: Hugo Harada/ Gazeta do Povo)

"Cinco bilhões de celulares no mun­­do é a maior experiência biológica já feita na humanidade", diz o professor Leif Salford, presidente do departamento de neurocirurgia da Universidade de Lund, na Suécia. Como muitos outros cientistas, ele estuda há décadas os efeitos da radiação eletromagnética no corpo humano e se preocupa com o fato de o mundo usar cada vez mais tecnologias baseadas em ondas eletromagnéticas – rádio, tevês, celulares, wi-fi – sem saber que efeitos elas podem ter na saúde.

A Organização Mundial de Saú­­de (OMS) deu um alerta em maio: pode causar câncer. O anún­­cio da Agência Internacional de Pesquisa sobre o Câncer (Iarc, na sigla em inglês), braço da entidade, classificou a radiação emitida pela antena do telefone celular como "possivelmente cancerígena para humanos", o mesmo grupo de perigo em que gases emitidos por automóveis, chumbo e clorofórmio estão incluídos.

O estudo que motivou o anúncio relaciona o uso do celular ao aumento de tumores malignos e benignos no cérebro. Segundo a pesquisa, quem usou o aparelho por 30 minutos por dia durante 10 anos, apresentou 40% mais chances de desenvolver gliomas, um tu­­mor encefálico maligno e muito pe­­rigoso. Mas a divulgação veio com uma ressalva: os resultados não são definitivos. Ainda não há nenhum caso de câncer comprovadamente causado por celular e faltam estudos epidemiológicos para comprovar a ligação da doen­­ça com o uso do aparelho.

Para Adilza Condessa Dode, dou­­tora em engenharia elétrica pela Universidade Federal de Mi­­nas Gerais, a classificação "possi­vel­­mente cancerígena" basta para a adoção do chamado Princípio da Precaução, que diz que, se ainda não há certeza sobre danos que uma tecnologia causa à saúde, é me­­lhor adotar medidas restritivas do que esperar até que aconteça o pior.

Em sua tese de doutorado, de­­fen­­dida no ano passado, Adilza re­­lacionou as mortes por câncer acontecidas em Belo Horizonte entre 1996 e 2006 com a proximidade da residência dos doentes a antenas de telefonia móvel: 93% dos casos das mortes ocorreram a até 500 metros de alguma antena. Foram analisados só casos de câncer que a literatura médica já sabe estarem relacionados à ação do campo elétrico gerado pela radiação, como de mama, pele, próstata, pulmão e fígado. Para a engenheira, a poluição eletromagnética é o maior problema ambiental do século 21, principalmente porque ainda não se tem certeza dos efeitos que ela pode causar.

No Brasil, quem determina e fiscaliza os níveis de exposição a campos eletromagnéticos é a Agência Nacional de Telecomuni­ca­­ções (Anatel). Ela define tanto a radiação máxima que um celular pode emitir quanto o valor máximo de campo eletromagnético que um conjunto de antenas pode gerar em área habitada.

Os valores adotados pela Anatel, em regulação de 2002, são os mesmos definidos pela Comis­são Internacional de Proteção Contra Radiações Não Ionizantes (Icnirp) e ainda indicados pela OMS. Segundo Agostinho Linha­res de Souza, gerente especialista em regulação da agência, todos os pontos de medição do país estão com os níveis de campo elétrico abaixo dos recomendados pela legislação.

Parâmetros

A questão levantada pela OMS é se esses padrões são de fato seguros. Países como Suíça, Itália, Rússia e China já adotam parâmetros mais restritivos tanto para a emissão de radiação por aparelhos como celulares e roteadores, como para antenas de telefonia e radiodifusão. A cidade de Porto Alegre, por decreto municipal, também op­­tou pela cautela e adotou padrões 100 vezes mais baixos que os recomendados pela lei federal – e os serviços mantiveram o padrão de qualidade

Segundo Leeann Brown, porta-voz do Environmental Working Group, associação de pesquisadores sem fins lucrativos, a classe científica ainda não consegue determinar quais os padrões seguros de exposição a radiação, mas já é possível afirmar que os parâmetros atuais são altos demais e precisam ser revistos com urgência. Leeann acredita que apenas uma mobilização da população pode acelerar a mudança da legislação em cada país, já que as em­­presas de telecomunicações já sa­­bem dos perigos, mas evitam falar sobre isso para não assustar os consumidores.

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