O plantio de soja do Brasil na safra 2011/12, que começa entre meados de setembro e outubro, poderá sofrer algum efeito no caso de haver um aprofundamento da crise financeira global, mas isso não deve impedir o país de registrar um novo recorde de área plantada, disseram três analistas independentes à Reuters.
O fato de os produtores terem aproveitado os bons preços e acelerado como nunca as vendas antecipadas, travando boa parte dos custos, e de acreditarem que as cotações continuarão em patamares lucrativos --mesmo se houver perdas maiores nos mercados financeiros-- são alguns dos argumentos por trás das opiniões dos analistas.
Os preços da soja na bolsa de Chicago, referência global para o produto, caíram algo em torno de 2 por cento nesta semana em que os investidores se livraram de ativos considerados de risco.
Os preços da oleaginosa estão menos de 10 por cento abaixo do maior valor do ano, de cerca de 14,55 dólares por bushel em fevereiro, preço que só perde para o recorde histórico acima de 16 dólares de julho de 2008, antes da crise internacional.
"A essa altura, a intenção de plantio já está dada, estamos em agosto, e produtor de Mato Grosso pode começar a plantar soja em 15 de setembro, com o fim vazio sanitário (proibição de plantio para evitar a ferrugem asiática), disse o analista Rodrigo Nunes, da Agência Rural, em Cuiabá (MT).
Para Nunes, mesmo se os preços da soja acabarem sendo contaminados e sofrerem mais até o início do plantio por conta do agravamento da crise, alguns produtores que deixaram para decidir na última hora sobre alguma área marginal podem mudar de ideia. "Mas o grosso da decisão já está tomada".
Os produtores, acrescentou Nunes, já comercializaram boa parte da produção antecipadamente, uma conjuntura que torna mais difícil uma desistência de plantio. No Mato Grosso, que responde por mais de um quarto da produção nacional de soja, os sojicultores já venderam cerca de 30 por cento da produção 11/12, segundo a Agência Rural.
Os analistas lembram ainda que uma parte considerável dos fertilizantes e outros insumos agrícolas para a próxima safra já foi comprada. "Se essa crise chegasse mais cedo, talvez (poderia mudar algo). Mas os produtores estão bem vendidos."
APERTO LIMITA QUEDA DE PREÇO
Os especialistas também consideram que um apertado quadro de oferta e demanda global de grãos --ainda com possibilidade de os Estados Unidos (maior produtor de soja e milho) rever para baixo sua expectativa de produção em 2011 por problemas climáticos-- também pode evitar que a commodities agrícolas venham a sofrer impacto significativo de uma crise maior.
"Provavelmente, o USDA deverá vir com uma revisão para baixo de milho e soja. Então se pelo lado financeiro esse comportamento baixista do mercado deve permanecer, e isso é uma coisa difícil de prever, do lado de oferta e demanda... não há o que aponte para reverter a intenção de plantio", disse Jacqueline Bierhals, da Informa Economics FNP.
Dessa forma, disse ela, se houver uma redução na expectativa de plantio, será marginal.
Para Bierhals, um cultivo mais "frágil" a uma crise é o algodão, por não ser uma commodity ligada à alimentação e também pela oferta global da fibra dar mostras de se regularizar. "Em soja e milho, a repercussão (da crise) seria mínima", disse ela, lembrando que mesmo o Rio Grande do Sul, que tradicionalmente não faz muitas vendas antecipadas, já comercializou 5 por cento da safra estimada de soja.
PROBLEMA SERIA MAIS FINANCEIRO
O analista do Cepea/Esalq, da Universidade de São Paulo, Lucílio Alves, afirmou que o produtor não deverá "deixar área parada" em 2011/12, mesmo que os preços caiam um pouco mais, considerando a alta margem de lucro da atividade atualmente.
Segundo ele, em julho, a rentabilidade sobre o custo operacional em Mato Grosso era de nada menos que 70 por cento.
"O mercado interno está muito bom para o milho, a oferta está mais apertada e deve sustentar os preços. Na soja, um produto mais ligado à exportação, talvez exista um risco maior, mas ainda haveria espaço para cair (sem prejudicar muito a rentabilidade)", disse Alves.
Segundo ele, considerando uma crise maior que se avizinha, esse seria um bom momento para o produtor, que já travou os custos, fazer hedge também da receita.
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