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EIIL alarga alcance

Ataque na Península do Sinai, feito por um grupo egípcio, estabeleceu uma ‘província’ do Estado Islâmico | Alaa Elkamhawi/Almasry Alyoum/European Pressphoto Agency
Ataque na Península do Sinai, feito por um grupo egípcio, estabeleceu uma ‘província’ do Estado Islâmico (Foto: Alaa Elkamhawi/Almasry Alyoum/European Pressphoto Agency)

O Estado Islâmico está se expandindo para além de sua base na Síria e no Iraque e estabelecendo afiliados no Afeganistão, Argélia, Egito e Líbia, aumentando a perspectiva de uma nova guerra global contra o terror.

Autoridades da inteligência estimam que os combatentes do grupo sejam entre 20 mil e 31.500 na Síria e no Iraque. Há promessas de apoio de “provavelmente pelo menos outros cem extremistas” na Jordânia, Líbano, Arábia Saudita, Tunísia e Iêmen, de acordo com um oficial de contraterrorismo americano que falou anonimamente.

O tenente-general Vincent R. Stewart, diretor da Agência de Inteligência de Defesa, disse neste mês que o Estado Islâmico, também conhecido por EIIL ou EIIS, estava “começando a ampliar seu alcance internacional”.

Mas a eficiência dos afiliados não está clara, nem mesmo até que ponto isso é um rebranding oportunista de jihadistas que esperam conquistar novos membros usando a notoriedade do Estado Islâmico.

A súbita proliferação de grupos afiliados e de leais combatentes gerou um movimento na Casa Branca para dar ao presidente Barack Obama e a seu sucessor a autoridade para perseguir o grupo onde quer que seus seguidores apareçam.

“Não queremos que ninguém do EIIS fique com a impressão de que quando se mudam para algum país vizinho estarão em um refúgio seguro e fora do alcance dos Estados Unidos”, disse Josh Earnest, secretário de Imprensa da Casa Branca.

O Estado Islâmico declarou a formação de um califado, ou estado religioso, em junho de 2014. Analistas do contraterrorismo dizem que ele está usando a estrutura de franquia da Al-Qaeda para ampliar seu alcance geográfico, mas sem seu processo de admissão rigoroso e demorado. Isso permitiria que seus grupos afiliados crescessem mais rápido, mais facilmente e com maior alcance.

“Facções que já fizeram parte da Al-Qaeda e seus afiliados, bem como grupos leais a ela, ou com os quais de alguma maneira já trabalhou em conjunto, migraram para o que veem como um grupo vencedor”, disse Steven Stalinsky do Instituto de Pesquisa de Mídia do Oriente Médio, em Washington.

A atração do Estado Islâmico foi confirmada quando Amedy Coulibaly, um dos participantes dos ataques terroristas de Paris no mês passado, declarou lealdade ao grupo. No Afeganistão, no início deste mês, um drone americano matou um ex-comandante do Talibã, Mullah Abdul Rauf Khadim, que havia jurado fidelidade ao grupo. Em novembro, uma facção da Al-Qaeda no Iêmen jurou lealdade ao EIIS e seu líder, Abu Bakr al-Baghdadi. No Egito e na Líbia, grupos militantes fizeram o mesmo e foram publicamente reconhecidos como “províncias” do suposto califado.

A influência do Estado Islâmico já é aparente nas operações em províncias do Norte da África. No dia 15 de fevereiro, o grupo divulgou um vídeo na mídia social que pretendia mostrar os combatentes de um afiliado na Líbia executando 20 egípcios cristãos vestidos com macacões laranja, um símbolo do EIIL.

Em retaliação, o Egito realizou um ataque aéreo contra os militantes da Líbia em 16 de fevereiro. Mas os analistas disseram que o grupo pode considerar a entrada do Egito na batalha da Líbia um sucesso estratégico, porque os extremistas estão tentando espalhar o caos.

No próprio Egito, o grupo extremista Ansar Beit al-Maqdis, baseado no Sinai, enviou emissários ao EIIS na Síria no ano passado e adotou a típica punição medieval utilizada pelo Estado Islâmico, a decapitação. Após se tornar a Província do Sinai do Estado Islâmico em novembro, as declarações e os vídeos on-line do grupo assumindo responsabilidade por ataques começaram a adotar a sofisticação e a violência associadas à sua nova liderança.

Até agora, a Província do Sinai tem se concentrado no combate às forças de segurança. Apesar da repressão crescente do governo, os militantes parecem estar mais ousados e mais avançados desde que se vincularam ao Estado Islâmico. Na noite de 29 de janeiro, reivindicaram a responsabilidade pelos atentados coordenados que mataram 24 soldados, seis policiais e 14 civis.

Na vizinha Líbia, pelo menos três grupos distintos declararam sua afiliação ao Estado Islâmico, um em cada uma das regiões do país: Barqa, a leste, Fezzan, no deserto sul, e Tripolitania, a oeste, perto da capital. Autoridades ocidentais temem que elas possam se tornar bases para combatentes do EIIS pela costa do Mediterrâneo, no Egito ou em outros lugares no Norte da África. A região leste da Líbia já se tornou um campo de treinamento de jihadistas que seguem para a Síria ou o Iraque e um refúgio para combatentes egípcios que promovem ataques no deserto vizinho.

A embaixadora Deborah K. Jones, enviada americana à Líbia, fez uma pergunta no Twitter em um apelo à unidade este mês: “Uma #Libya dividida pode suportar o #ISIL/Daesh?” escreveu ela, usando a abreviação em inglês e em árabe do Estado Islâmico.

Tripolitania já se destaca como uma ameaça para os ocidentais e seus interesses. No mês passado, combatentes sob a bandeira do grupo assumiram a responsabilidade pelo ataque a um hotel de luxo na capital, Trípoli, que é um centro de visitantes ocidentais e líderes do governo provisório apoiado por islâmicos.

Pelo menos oito foram mortos, incluindo David Berry, americano que trabalhava para uma empresa de segurança e que já foi fuzileiro naval. Dois dos combatentes do Estado Islâmico morreram em uma batalha contra as forças do governo.

“É um conflito real”, disse Frederic Wehrey, analista político do Carnegie Endowment for International Peace, que recentemente visitou a Líbia.

“O pessoal do Estado Islâmico está tentando conquistar território” da mais ampla coalizão islâmica e os está “desafiando em seu próprio território”, disse ele, enquanto outros extremistas estão “se aproveitando e gravitando o grupo, tornando-se mais ousados”.

Rukmini Callimachi e Ben Hubbard contribuíram

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