Acusado de crimes contra o mercado de capitais, o empresário Eike Batista decidiu, na quarta-feira, 17, quebrar o silêncio de meses. Em uma rápida entrevista em seu escritório no Flamengo zona sul do Rio, Eike reclamou de só ter seus projetos de infraestrutura reconhecidos no exterior e admitiu que, se pudesse voltar ao passado, não tocaria tantas empresas ao mesmo tempo.
"Lá fora sou admirado(...) No Brasil, eu tenho apanhado bastante", desabafou. Eike, que já foi o sétimo homem mais rico do mundo, diz ter hoje um patrimônio negativo de US$ 1 bilhão e receber um pró-labore do fundo soberano de Abu Dabi Mubadala, que tem participação no grupo X.
Sobre ainda ter o sonho de ser um dos homens mais ricos do mundo Eike afirma que foi educado como um garoto de classe média. "Diz o ditado que, quando você nasceu na Tijuca, não sai da Tijuca. Sempre fui classe média e isso não sai de você. Por isso que eu trabalho hoje como sempre trabalhei", afirmou.
Questionado sobre se teria se sentido abandonado pelo fato de o grupo X ter estado muito próximo do governo, mas ter perdido, com a crise, o apoio financeiro do BNDES, Eike disse preferir afirmar que a falha mesmo foi apostar tantas fichas em um negócio de risco, a OGX. "Como ela criou uma desconfiança grande depois, pedir ajuda (do governo) não fazia sentido. Sempre fui muito independente. As pessoas atribuem uma ligação com o governo Dilma que não teve. Meus projetos beneficiam o Brasil sim, por isso o BNDES botou dinheiro", disse.
Quanto ao sentimento de, talvez, sentir-se injustiçado, Eike respondeu que seus projetos não são "power point", são de grande importância para a infraestrutura do Brasil. Sustentou que vários já estão operando e outros vão começar a operar, como o Porto do Açu e as térmicas da MPX. "Acho que devo estar fazendo alguma coisa para ajudar o Brasil. Não sei como alguém pode falar que não é um legado. Algum investidor abre um cheque de US$ 600 milhões para um power point (em referência ao investimento da americana EIG no Porto do Açu)?", questiona ele.
Em relação ao pedido da Justiça de bloqueio de US$ 1,5 bilhão de suas contas e ao valor, hoje, de seu patrimônio, Eike contou que seu patrimônio atual é menos US$ 1 bilhão. Informa que tem, atualmente, uma casa no Jardim Botânico, outra de um dos dois filhos ao lado, uma doação que fez para a Flávia (Sampaio, esposa), sua casa e uma lancha em Angra dos Reis. "Eu me tornei um funcionário dessa massa de dívida", disse.
Credores
Sobre a possibilidade de conseguir pagar todos os credores, Eike responde que a determinação é pagar todas as suas dívidas. Conta que abriu mão do controle e hoje é minoritário da maior parte das empresas. Disse que essas participações minoritárias estão dadas em garantia com os bancos: Mubadala, Bradesco, Itaú. "Tenho acordo em que o Mubadala (fundo soberano de Abu Dabi) paga minha estrutura, para pagar minhas contas, e espero em cinco anos fazer acontecer a criação de valor (dos projetos) e voltar a ficar positivo. O Açu vale hoje de US$ 800 milhões a US$ 1 bilhão, mas pode valer US$ 10 bilhões. Vai sobrar alguma coisa pra mim. Recebo um pró-labore para tocar isso aí: sou literalmente um gestor sócio de ativos."
E quanto ao sonho de ser o homem mais rico do mundo? "Trabalho hoje como sempre trabalhei, talvez de forma mais estressante no último ano e meio. Mas cumpri minhas obrigações e isso que importa. Tenho orgulho de ter construído isso porque serve o Brasil", respondeu.
Quando perguntado sobre se haveria resistência dos investidores em vincular seu nome aos projetos, sua resposta soa como um lamento: "Olha que tristeza: lá fora eu sou admirado, alguém que coloca projetos desse porte em pé. Entendem que é normal ter um fracasso e eu tive um fracasso grande por causa da minha empresa de petróleo... Mas eles admiram o que eu fiz e, inclusive, sabem que sou um cara que vai fazer de novo. Inclusive me oferecem recursos. No Brasil eu tenho apanhado muito."
O ex-milionário afirma que, em sua avaliação, não fez nada de errado, ao ser questionado sobre o fato de estar sendo acusado pelo Ministério Público de manipular o mercado e usar informação privilegiada. Mas não respondeu se teme ser preso. "A Justiça anda seu caminho e assim seja".
Eike nega ter usado, em algum momento, informação privilegiada para fazer negócios. Diz que isso não faz sentido. "Sabe por que não faz sentido? Eu não vendi minhas ações. Por que eu não me beneficiei de nada? Isso é que não bate. Quem é o maior prejudicado dessa história?, contesta. Mas não responde à reportagem se sabia ou não da inviabilidade econômica dos campos da OGX.
Equipe
A reportagem quer saber se existe algum processo dele contra alguém de sua antiga equipe da OGX. Eike diz que ninguém. "Poxa, eles estavam na boa-fé deles achando que era assim mesmo. Enquanto os resultados não vinham..."
Quanto à sua afirmação de que teria sido 'um pouco' enganado pelos executivos, Eike responde simplesmente que as pessoas eram competentes, que as parcerias que foram feitas comprovam isso. E que sempre havia gente lá fora dizendo 'seu pessoal é fantástico'. Você não vai acreditar?, pergunta ele. Conta que os próprios sócios da Mubadala auditaram tudo. E volta a questionar: "Alguém entende mais de petróleo que eles?"
Então, quem seria o responsável no caso da OGX?, quer saber a reportagem. "Desculpa, o setor tem isso. A exploração de petróleo é uma atividade de risco em qualquer lugar do mundo. Eu tinha ganho áreas na Bacia de Campos que é a mais promissora do país. Me deram um pasto para pastar com grama verde e eu como vaquinha achava que ia ter o mesmo sucesso de 60% de taxa de acerto que a Petrobras, já que eram áreas adjacentes. Mas tudo se resume na produtividade: o petróleo está lá (nos campos da OGX) mas ele não sai.", justifica.
Rechaça a afirmação do Ministério Público Federal de que teria 'iludido' os investidores dizendo que ele próprio comprou ações da companhia e que tem elas até o final, não as vendeu. E vai além quando questionado sobre a fúria dos acionistas minoritários: "Poxa, se o minoritário tivesse ganhado dinheiro, ninguém ia vir aqui dividir comigo. Ele investe em um setor de risco."
E o que Eike Batista faria de diferente se pudesse voltar atrás? "Talvez não tocasse tantas companhias em paralelo, porque você tem mais tempo.", responde. E qual o motivo do silêncio tão longo nesse momento de crise?. O ex-milionário diz ter perdido a credibilidade. "Tinha de trazer novos parceiros. Por isso nesse um ano e meio, talvez erroneamente, parei de falar. Mas o investidor novo não gosta que a gente fale o que está fazendo. Agora dá para falar porque o grosso (da reestruturação) está encaminhado. As pessoas não têm noção que botei tanta grana minha nos projetos. Houve um erro de jogar 60% das fichas em uma empresa petrolífera. Virou uma âncora muito pesada.
Eike Batista vai voltar ao mundo dos negócios?
"Brasileiro não desiste nunca. Mas estou focado na reestruturação do grupo", afirma. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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