Eike Batista: patrimônio líquido negativo de US$ 1 bilhão| Foto: Patricia Santos/Agência O Dia

Crescimento

População da nova classe C saltou de 40% para 56% em dez anos

Na última década, as classes alta e média registraram expansão, enquanto a baixa vem diminuindo. Nesse período, a fatia top cresceu de 13% para 23% da população do país, com quase 47 milhões de pessoas. Na robusta classe média, o salto foi de 40% para 56%, batendo 114 milhões este ano. "Na nova classe média, que aumentou pela maior oferta de trabalho no país, as pessoas declaram ter evoluído por esforço próprio. Fazer referência a esse valor do trabalho pode ter o efeito de aproximação com as pessoas", avalia o presidente do Data Popular Renato Meirelles. É justamente esse foco na capacidade de trabalho a explicação de Eike sobre sua menção à classe média. Sexta-feira, após o silêncio digital de quase um ano, o criador do grupo X voltou a tuitar.

Esclareceu que referia-se à capacidade da classe média de adaptar-se a situações adversas. "Não foi analogia com minha atual situação financeira... Falava da origem da minha família e dos desafios que tenho enfrentado, querendo dizer que não temo voltar a ela", postou. Na véspera, ele anunciara ter agora patrimônio líquido negativo de US$ 1 bilhão.

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Classe média e Eike Batista. A combinação dos dois assuntos levou o nome do empresário a figurar entre os assuntos mais comentados do Twitter na última quinta-feira. Na véspera, ele declarou ter sido educado como um jovem de classe média. E que não se perde isso.

Desde que Eike decidiu romper o silêncio, as redes sociais foram tomadas por uma onda de sugestões bem-humoradas para o empresário. As propostas indicavam como o homem que, em 2012, chegou ao posto de mais rico do Brasil e oitavo no mundo, segundo índice de bilionários da Bloomberg, poderia se adaptar ao padrão dessa categoria de renda. As ideias vão desde usar programa de milhagem para retirar passagem aérea, comprar pacotes turísticos parcelados em dez vezes, ter celular pré-pago ou até juntar os parentes sob o mesmo teto.

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Brincadeiras à parte, a avalanche de piadas nas redes sociais pode ter sido motivada pela grande distância que existe entre o padrão de vida de Eike e o da crescente classe média do país. "Parece haver um constrangimento em se assumir como rico no Brasil. Rico, aqui, é sempre o outro. Isso tem a ver com a desigualdade de renda no país, além do histórico escravocrata e a forte influência do catolicismo", diz Renato Meirelles, presidente do Instituto Data Popular, especializado em pesquisas sobre as classes C, D e E.

O conceito de classe média no país não é único. Ele varia conforme os critérios de avaliação usados pela entidade que se dedica a fazer a classificação econômica da população. O Data Popular estabelece cinco. A classe média é o recheio desse sanduíche social, no qual a renda familiar média varia entre R$ 1.792 e R$ 3.273. A fatia do pão que fica na base é bem esmirrada: na classe E (extremamente pobre) a renda da família é de apenas R$ 264. Do outro lado, na A (alta classe alta), de R$ 15.111. Daí para cima, o céu é o limite.

São os mesmos parâmetros da Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República, atualizados pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor, do IBGE, para valores de maio deste ano. É com base neles que o governo afirma que a maioria da população do país pertence à classe média.

Para os sociólogos, como Jessé de Souza, que há mais de 20 anos se dedica ao estudo das classes sociais, a divisão não pode ser feita apenas com base em critérios de renda ou posse de bens. Na visão dele, além dos fatores econômicos, as classes sociais também são caracterizadas pelos capitais cultural (educação formal, além daquela herdada dos hábitos da família) e social, onde se incluem os benefícios resultantes das relações pessoais.