Mesmo investidores conservadores, adeptos da renda fixa, precisam ficar atentos ao cenário político. Prova disso são as oscilações recentes das taxas e preços dos títulos do Tesouro Direto, hoje opção de investimento de 424 mil pessoas físicas.
A leitura que o mercado financeiro tem feito das reviravoltas políticas em ano eleitoral tem causado mudanças nos rendimentos, principalmente para quem vende títulos pós-fixados antes do vencimento em especial os NTN-B, atrelados à inflação oficial (IPCA). Esses investidores têm corrido o risco de perder dinheiro apenas por escolher errado o dia da venda, que pode ter taxa de venda menor do que foi a de compra.
Até mesmo quem pretende vender o título no tempo certo notou diferença no rendimento. Exemplo: quem comprou no início de junho o NTN-B, que vence em 15 de maio de 2017, garantiu rendimento de 5,5% ao ano mais inflação até o vencimento. Quem fez o mesmo em meados de setembro contará com ganho menor (4,7%). Os que esperaram até fins de outubro conseguiram o patamar de junho; mas quem aguardou até ontem, não (5,28%).
Parte da explicação tem a ver com a perspectiva do mercado em relação à reeleição da presidente Dilma Rousseff. Para investidores, essa projeção vinha atrelada a uma maior possibilidade de aumento de juros e de inflação, o que joga para cima rendimentos de títulos indexados pelo IPCA e pela Selic, a taxa básica de juros.
Suspensão
O sobe e desce político tem se refletido tanto no Tesouro Direto que o governo opta por suspender negociações em certos horários para que os preços não sejam distorcidos visto que são atualizados apenas três vezes ao dia. Em outubro, foram nove suspensões, a última delas ontem. Em somente dois casos a justificativa era de agenda caso do primeiro domingo de eleição, no dia 5, e da reunião do Conselho de Política Econômica (Copom), hoje, o que suspendeu as vendas de diversos títulos (as LTN, pré-fixadas, e todos os NTN) entre os dias 22 e 30. Em setembro, foram oito suspensões inesperadas.
As oscilações não se comparam às que marcaram as eleições de 2001, mas têm chamado a atenção porque atingem mais os pequenos investidores.
"Quanto mais longo o prazo, maior a oscilação do título e o ambiente político incentiva isso. Especialmente quando os candidatos escondem a todo custo o que vão fazer", diz Marcelo D'Agosto, diretor da InvestMate. Ou seja, o sobe e desce tem tudo para continuar e já começa a fazer parte desse tipo de investimento.
O economista André Perfeito, da Gradual Investimentos, avalia que a situação deve servir de alerta a investidores que esperam grandes rendimentos com renda fixa um paradoxo financeiro.