A campanha eleitoral para as prefeituras brasileiras transcorreu como se os candidatos vivessem num mundo totalmente alheio aos efeitos da crise econômica internacional. Prometeram uma série de realizações e atacaram-se mutuamente, mas, em geral, esconderam dos eleitores, em seus discursos e programas, a restrição orçamentária que será imposta pela crise. Com o arrefecimento previsto para a economia do mundo inteiro, na esteira da crise internacional, não haverá recursos para a realização de grandes obras.
Os analistas de economia e política avaliam que, se os votos depositados nas urnas tiverem como lastro apenas as promessas de campanha, os eleitores poderão se frustrar. Eles destacam que, diante de uma crise econômica com proporções e dimensões comparáveis apenas à que se seguiu ao crash da bolsa americana em 1929, a tendência é de interrupção nos programas de investimentos e de concessão de crédito para o setor produtivo. O resultado disso é o esfriamento da economia real, de onde saem os tributos (impostos, contribuições e taxas) que fazem os caixas dos governos federal, estaduais e municipais.
Economia real
"Esta crise já não é mais só financeira. É uma crise que já atingiu a economia real", informa a consultoria Rosenberg & Associados. "A perspectiva de que a crise econômica vai levar a uma redução da arrecadação e a uma diminuição das despesas para todos os níveis de governos é cada vez mais concreta", define o analista da MCM Consultores, Ricardo Ribeiro. Para ele, por questões orçamentárias, os primeiros cortes são feitos sobre as verbas destinadas aos investimentos. "Diante de uma crise como esta, acho que os futuros prefeitos não terão como construir grandes obras, como linhas de metrô ou mesmo muitas escolas e hospitais", prevê o analista da MCM.
Curitiba
Em reportagem publicada ontem pela Gazeta do Povo, a prefeitura de Curitiba admitiu um "plano B" para vencer os efeitos que a crise terá no orçamento municipal. De acordo com o secretário de Finanças, Luiz Eduardo da Veiga Sebastiani, três medidas poderão ser adotadas. A mais importante delas é o corte de R$ 367 milhões em despesas previstas para 2009, com contingenciamento de verbas e adiamento de obras de infra-estrutura. A renegociação da parcela em dólar da dívida da cidade (aproximadamente US$ 130 milhões) e o uso de um fundo de contingência de R$ 40 milhões também não estão descartados.