As condições macroeconômicas mais favoráveis do Brasil nos últimos anos estão contribuindo para que as empresas privadas do setor elétrico obtenham rentabilidade superior ao custo de capital. Essa é uma das principais conclusões do estudo elaborado pela consultoria Stern Stewart e pelo Instituto Acende Brasil, com base nos resultados de companhias de geração e distribuição de energia. "Olhando para a frente, podemos supor que o setor elétrico trilha o caminho para ser uma atividade economicamente sustentável", disse o presidente do Instituto Acende Brasil, Claudio Sales.
O estudo usou como premissa o critério do Economic Value Added (EVA), que consiste na estimativa do lucro econômico depois de subtraídas todas as despesas operacionais, inclusive o custo de capital empregado na operação. Publicado pela primeira vez em 2005, o estudo de rentabilidade passou este ano pela segunda atualização. Nesta edição, foram selecionadas 21 empresas privadas as estatais não foram incluídas, para evitar distorções na análise.
Segundo o estudo, as elétricas privadas registram EVA positivo desde 2007, interrompendo a trajetória de perdas verificadas desde 1998. De acordo com Sales, a melhora na rentabilidade do setor é reflexo da combinação de ganhos de eficiência pelas concessionárias e da diminuição do custo médio ponderado do capital (WACC). "O que se espera de um setor altamente regulado é que seja sustentável. Felizmente, o EVA mostra que isso está ocorrendo", acrescentou o executivo.
Perdas acumuladas
Apesar do retorno positivo, o estudo mostra que o resultado obtido entre 2007 e 2009 não foi suficiente para recuperar as perdas históricas do setor. Nos cálculos da Stern Stewart, o saldo de perdas estaria acumulado em R$ 49,3 bilhões desde 1998, já incorporando os ganhos dos últimos três anos. "Se esse valor for atualizado pelo custo de capital, o saldo chegaria a R$ 222 bilhões", disse o vice-presidente sênior da consultoria Stern Stewart, Augusto Korps Junior. "No atual ritmo de rentabilidade do setor, o EVA negativo acumulado nunca vai ser pago pelas empresas."
Sales explicou que a rentabilidade negativa apurada pelo setor entre 1998 e 2006 é fruto das condições macroeconômicas (risco-país e inflação) mais adversas entre 1999 e 2002, o que aumentou o custo do capital, e do racionamento de 2001, que provocou prejuízos às companhias.
Korps Junior disse que, apesar de positivo, o valor atual do EVA está próximo a zero, o que reduz a atratividade do setor para os investidores. "Para atrair os investidores, o retorno tinha de ser um pouquinho acima disso. Se o acionista terá retorno zero, por que investirá no setor?", questionou o executivo. Outro ponto levantado no estudo é que o spread entre o retorno e o WACC das elétricas brasileiras é inferior ao de empresas da América Latina e da Europa, o que indica que o setor elétrico brasileiro apresenta menor geração de valor para os seus acionistas.