A corrida eleitoral tem feito o câmbio oscilar bastante, para cima e para baixo. Para o futuro, no entanto, a tendência é uma só: alta do dólar em relação ao real. Seja pela flutuação natural da moeda após o período eleitoral ou pela recuperação da economia norte-americana, o mais provável é que a moeda atinja um novo patamar a partir de 2015.
INFOGRÁFICO: Cenário eleitoral fez dólar oscilar nos últimos meses
A aposta mais recorrente no boletim Focus, do Banco Central, e nas análises macroeconômicas dos bancos Santander e Itaú é de que o dólar chegue a R$ 2,50 na transição do primeiro para o segundo semestre do próximo ano. É para essa época do ano que o Federal Reserve, o banco central norte-americano, sinalizou que promoveria uma alta nos juros.
Com a alta na taxa de juros dos Estados Unidos, os investimentos naquele país ficam mais vantajosos, o que tende a deslocar capital estrangeiro que estava aplicado em outros países, como o Brasil, em direção à América do Norte. Com a fuga de capitais, as moedas locais se desvalorizam.
Até mesmo por isso, a moeda americana não vai se valorizar somente em comparação ao real, mas em relação a todas as principais moedas do mundo. De acordo com o boletim mensal de análise econômica do Itaú, a expectativa é que, na média, o dólar tenha uma apreciação de 3% em relação às moedas dos principais parceiros comerciais dos Estados Unidos ao longo do ano que vem.
"O dólar vem em uma trajetória global de valorização e não parece que essa tendência vá se reverter a ponto da moeda ficar abaixo dos R$ 2,40", avalia o economista Felipe Salto, da consultoria Tendências.
Para o professor de Economia da Universidade Estadual de Maringá (UEM) Heriberto Calheta, a valorização do dólar só pode ser comprometida caso Europa e Japão demorem muito para corrigir os rumos das suas economias. "A indústria japonesa e a europeia não estão nos seus melhores dias, e isso pode adiar um pouco a recuperação americana e, consequentemente, a valorização da sua moeda", explica. Com parceiros comerciais enfraquecidos, o plano de aumento na taxa de juros poderia ser adiado. "No entanto, os blocos estão trabalhando com estímulos, e isso não deve ser um empecilho", pondera Calheta.
Fatores internos
Apesar de a pressão externa ser preponderante, fatores internos também vão afetar a movimentação do câmbio em 2015. Além do resultado das eleições e o sinal de confiança que o mercado pode ou não dar, a expectativa é de um Banco Central menos intervencionista a partir do próximo mandato, liberando o câmbio para uma cotação menos artificial. "A intervenção se justifica em um momento de oscilação como a corrida eleitoral, mas não para o ano que vem", afirma Filipe Machado, economista da Geral Investimentos.
Heriberto Calheta, da UEM, defende a liberação do câmbio. "O Banco Central tem agido para conter a alta do dólar e segurar a inflação, mas é preciso soltar a cotação, até mesmo para fazer a indústria reagir."
Pressão sobre a inflação, alento para a indústria
A desvalorização do real perante o dólar tem consequências importantes no Brasil. Em primeiro lugar, a inflação tende a ficar ainda mais pressionada para estourar o teto da meta. Por outro lado, a indústria e o saldo do comércio exterior se beneficiam.
Rondando a marca de 6,5% ao ano nos últimos meses, a alta nos preços deve se fortalecer com a escalada do câmbio. Segundo o professor de Economia Heriberto Calheta, da UEM, 5% da inflação medida pelo IPCA é influenciada diretamente pelo câmbio. "Some a isso os diversos preços controlados que estão represados e teremos um cenário de inflação muito complicado para o ano que vem, próximo dos 7% ao ano", prevê.
Mas a alta do dólar não traz somente impactos negativos para a economia brasileira. A indústria nacional, que enfrenta recessão, tende a se beneficiar, com preços mais competitivos no mercado externo. "Talvez seja isso que a indústria precise hoje. Naturalmente haveria uma diversificação dos produtos manufaturados nas exportações", afirma Filipe Machado, da Geral Investimentos.
A alta do dólar também reduz a dívida líquida do setor público, porque o Brasil tem reservas internacionais elevadas, de mais de US$ 370 bilhões. "Dessa forma, quando o dólar sobe, as reservas se valorizam e acabam aumentando os ativos do governo. A arrecadação federal também fica maior", diz Felipe Salto, da consultoria Tendências.