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A alta do dólar deve devolver parte da competitividade aos manufaturados brasileiros, e melhorar o saldo da balança comercial | Giuliano Gomes / Gazeta do Povo
A alta do dólar deve devolver parte da competitividade aos manufaturados brasileiros, e melhorar o saldo da balança comercial| Foto: Giuliano Gomes / Gazeta do Povo

Eleições

Disputa presidencial determina cotação da moeda no fim do ano

O resultado das urnas será determinante para a cotação do dólar no curto prazo. A tônica das oscilações ao longo da corrida eleitoral deve prevalecer para os últimos dois meses do ano: se Dilma Rousseff se reeleger, a alta do câmbio deve acontecer mais cedo; se Aécio Neves for o vencedor, o nível atual da moeda americana tende a se manter por mais alguns meses.

Mais que estratégias econômicas das duas equipes, o comportamento deve ser ditado pela especulação do mercado. Segundo o economista Felipe Salto, da consultoria Tendências, o mercado não espera muitos ajustes numa eventual reeleição da candidata do PT e, com isso, a movimentação dos investidores faria a moeda avançar para próximo de R$ 2,50 ainda em 2014. "A condução da economia não está em linha com o que o mercado espera. Não há confiança na atual política econômica", afirma Salto.

Com uma eventual vitória da oposição, a expectativa dos analistas é de que a moeda se mantenha na cotação das últimas semanas, entre R$ 2,35 e R$ 2,40, adiando a alta da moeda americana para mais perto do momento em que os Estados Unidos elevarem sua taxa de juros. "É a forma que o mercado tem de pressionar por ações mais agradáveis a ele. [Com vitória de Aécio] a tendência é de um otimismo maior e entrada de capitais, apreciando levemente o real em relação ao dólar no curto prazo", diz Filipe Machado, da Geral Investimentos.

O que fazer

Com a proximidade do fim do ano e uma série de pacotes turísticos já fechados, a alta do dólar apavora os viajantes. Veja como tentar amenizar os riscos de perda:

• Compre aos poucos

Com o cenário eleitoral bastante disputado, é impossível prever quando a moeda vai oscilar para cima ou para baixo no curto prazo. A dica é comprar dólares aos poucos, para não ficar refém de uma cotação muito alta em um determinado período às vésperas da viagem.

• Evite cartão de crédito

Este é o pior momento para fazer compras internacionais (pacotes, reservas ou passagens) com o cartão de crédito. Além do imposto alto, é impossível prever se a alta da moeda vai acontecer no momento do fechamento da fatura. O ideal é reservar o cartão para compras emergenciais.

• Sem pressa na venda

Se sobrarem dólares na volta da viagem, a dica é ter calma na hora de trocar novamente a moeda por reais. Se possível, o mais indicado é esperar pela estabilização da moeda em 2015, quando ela tende a se valorizar.

R$ 2,41 foi a cotação média do dólar comercial na última sexta-feira. A expectativa dos analistas consultados pelo Banco Central é de que a moeda feche o ano em R$ 2,40, chegando a R$ 2,50 em 2015.

A corrida eleitoral tem feito o câmbio oscilar bastante, para cima e para baixo. Para o futuro, no entanto, a tendência é uma só: alta do dólar em relação ao real. Seja pela flutuação natural da moeda após o período eleitoral ou pela recuperação da economia norte-americana, o mais provável é que a moeda atinja um novo patamar a partir de 2015.

INFOGRÁFICO: Cenário eleitoral fez dólar oscilar nos últimos meses

A aposta mais recorrente – no boletim Focus, do Banco Central, e nas análises macroeconômicas dos bancos Santander e Itaú – é de que o dólar chegue a R$ 2,50 na transição do primeiro para o segundo semestre do próximo ano. É para essa época do ano que o Federal Reserve, o banco central norte-americano, sinalizou que promoveria uma alta nos juros.

Com a alta na taxa de juros dos Estados Unidos, os investimentos naquele país ficam mais vantajosos, o que tende a deslocar capital estrangeiro que estava aplicado em outros países, como o Brasil, em direção à América do Norte. Com a fuga de capitais, as moedas locais se desvalorizam.

Até mesmo por isso, a moeda americana não vai se valorizar somente em comparação ao real, mas em relação a todas as principais moedas do mundo. De acordo com o boletim mensal de análise econômica do Itaú, a expectativa é que, na média, o dólar tenha uma apreciação de 3% em relação às moedas dos principais parceiros comerciais dos Estados Unidos ao longo do ano que vem.

"O dólar vem em uma trajetória global de valorização e não parece que essa tendência vá se reverter a ponto da moeda ficar abaixo dos R$ 2,40", avalia o economista Felipe Salto, da consultoria Tendências.

Para o professor de Economia da Universidade Estadual de Maringá (UEM) Heriberto Calheta, a valorização do dólar só pode ser comprometida caso Europa e Japão demorem muito para corrigir os rumos das suas economias. "A indústria japonesa e a europeia não estão nos seus melhores dias, e isso pode adiar um pouco a recuperação americana e, consequentemente, a valorização da sua moeda", explica. Com parceiros comerciais enfraquecidos, o plano de aumento na taxa de juros poderia ser adiado. "No entanto, os blocos estão trabalhando com estímulos, e isso não deve ser um empecilho", pondera Calheta.

Fatores internos

Apesar de a pressão externa ser preponderante, fatores internos também vão afetar a movimentação do câmbio em 2015. Além do resultado das eleições e o sinal de confiança que o mercado pode ou não dar, a expectativa é de um Banco Central menos intervencionista a partir do próximo mandato, liberando o câmbio para uma cotação menos artificial. "A intervenção se justifica em um momento de oscilação como a corrida eleitoral, mas não para o ano que vem", afirma Filipe Machado, economista da Geral Investimentos.

Heriberto Calheta, da UEM, defende a liberação do câmbio. "O Banco Central tem agido para conter a alta do dólar e segurar a inflação, mas é preciso soltar a cotação, até mesmo para fazer a indústria reagir."

Pressão sobre a inflação, alento para a indústria

A desvalorização do real perante o dólar tem consequências importantes no Brasil. Em primeiro lugar, a inflação tende a ficar ainda mais pressionada para estourar o teto da meta. Por outro lado, a indústria e o saldo do comércio exterior se beneficiam.

Rondando a marca de 6,5% ao ano nos últimos meses, a alta nos preços deve se fortalecer com a escalada do câmbio. Segundo o professor de Economia Heriberto Calheta, da UEM, 5% da inflação medida pelo IPCA é influenciada diretamente pelo câmbio. "Some a isso os diversos preços controlados que estão represados e teremos um cenário de inflação muito complicado para o ano que vem, próximo dos 7% ao ano", prevê.

Mas a alta do dólar não traz somente impactos negativos para a economia brasileira. A indústria nacional, que enfrenta recessão, tende a se beneficiar, com preços mais competitivos no mercado externo. "Talvez seja isso que a indústria precise hoje. Naturalmente haveria uma diversificação dos produtos manufaturados nas exportações", afirma Filipe Machado, da Geral Investimentos.

A alta do dólar também reduz a dívida líquida do setor público, porque o Brasil tem reservas internacionais elevadas, de mais de US$ 370 bilhões. "Dessa forma, quando o dólar sobe, as reservas se valorizam e acabam aumentando os ativos do governo. A arrecadação federal também fica maior", diz Felipe Salto, da consultoria Tendências.

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