Em meio às discussões de mudança no rendimento da poupança, os saques das cadernetas superaram os depósitos em R$ 941 milhões em abril. Foi o segundo mês consecutivo de saída líquida de recursos. No quadrimestre, a fuga somou R$ 1,52 bilhão, o pior desempenho desde 2006, segundo dados do Banco Central (BC). Analistas apontam duas razões para esse movimento: o temor de queda da rentabilidade devido às novas regras a serem adotadas pelo governo e os efeitos da crise, que tem feito muitos poupadores sacarem seus recursos para pagar contas
Segundo o BC, o conjunto de todas as cadernetas somava R$ 275,31 bilhões no último dia do mês passado. A despeito da retirada de recursos observada em abril, o valor é ligeiramente maior - com alta de 0,24% - que o verificado em março porque os depósitos existentes acumularam rendimento de R$ 1,562 bilhão no mês
A crescente saída de recursos das cadernetas não surpreende especialistas em finanças pessoais. "Alguns dos grandes investidores que estavam na poupança pela boa rentabilidade em tempos de Selic menor estão temerosos quanto às mudanças de regras em discussão, principalmente a possibilidade de que haja tributação ou rendimento menor para as aplicações maiores", diz o professor de finanças do Ibmec-SP, Ricardo José de Almeida. Até mesmo técnicos da área econômica reconhecem que a demora na definição das novas regras de remuneração da poupança tem provocado fuga de investimentos
Para Almeida a saída de grandes investidores explica parte dos saques. Ele afirma que, atualmente, apenas 7% das cadernetas têm mais de R$ 10 mil. "É esse investidor que pode estar migrando porque há o temor de que, em uma eventual mudança, ele perca juros". Na poupança, é preciso esperar 30 dias para que o depósito tenha rendimento. Já nos fundos de investimento, a rentabilidade é diária. "Se a regra mudar, esse cliente poderá ter de mudar de investimento. Nesse caso, terá esperar um mês para não perder o rendimento da poupança. Para evitar ficar preso, podem estar migrando antes para os fundos de investimento", diz
Dados da Associação Nacional dos Bancos de Investimentos (Anbid) reforçam a tese. Em abril, os fundos atraíram recursos. Entre as opções mais conservadoras - as que costumam concorrer com a poupança -, a renda fixa recebeu aplicação de R$ 843,7 milhões e as carteiras referenciadas no DI, outros R$ 469 milhões
Fábio Gallo, professor de finanças da Fundação Getúlio Vargas, também lembra que a crise e as perspectivas para a economia brasileira têm feito muitos investidores repensarem suas estratégias. "Quando há uma mudança grande de cenário, como a atual, as pessoas refazem os planos e mexem nos ativos para tentar aumentar a chance de lucro", afirma
Dentro do cenário de crise, Gallo diz que não se pode esquecer dos poupadores que têm enfrentado dificuldade financeira e que recorrem às cadernetas para fechar as contas. "O resultado das contas do FGTS mostra que muita gente tem ficado desempregada. Se o poupador perder o emprego, ele pode sacar parte das economias porque vai precisar do dinheiro"