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Rio de Janeiro - O Brasil foi palco de intensa mobilidade social entre 2003 e 2008, com 31,9 milhões de pessoas subindo degraus na pirâmide, especialmente em direção aos estratos mais altos. A classe AB, de renda familiar a partir de R$ 4.807, foi a que mais cresceu nesse período. Os dados foram compilados pelo Centro de Políticas Sociais (CPS) da Fundação Getulio Vargas a partir do resultado da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) de 2008, divulgado na semana passada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

De acordo com o pesquisador Marcelo Neri, a ascensão da classe média deveu-se basicamente ao fator trabalho. O potencial de geração de renda familiar cresceu neste período 28,32%, bem mais do que o crescimento de 14,98% do potencial de consumo. Por potencial de consumo entende-se o acesso a bens, especialmente duráveis, como automóveis e eletrodomésticos; a serviços públicos, condições de moradia e tipo de família.

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A migração social estendeu-se também à base da pirâmide. Programas de geração de renda, como o Bolsa Família, tiveram grande influência na redução da classe E, a mais baixa. Saíram dessa categoria social 19,5 milhões de brasileiros, entre 2003 e 2008, o que corresponde a um enxugamento de 43%.

O resultado só não apresentou uma melhoria maior devido a questões de cálculo. Neri inclui a posse ou uso de celulares e computadores na rubrica de investimento e não de consumo. "Isso explica uma parte do aumento do potencial do produtor ter sido maior que o de consumo, mas acho que computador e celular aumentam a produtividade", explicou o economista-chefe do CPS. Neri, que, por conta de dados anteriores, esperava um crescimento do consumo superior ao da elevação da renda, declarou-se surpreendido com o resultado.

Estabilização foi semente

Também entram no cálculo estatístico fatores como a inserção no mercado de trabalho; o nível de educação dos membros das famílias; a matrícula dos filhos em escolas públicas ou privadas, e o investimento em previdência. Na avaliação de Neri, "sementes plantadas na década de 90, como a estabilização, as reformas e o aumento do acesso à educação" contribuíram para o aumento do potencial de geração de renda pelas famílias nesta década.

Dois terços da queda da desigualdade no país num período um pouco mais longo – entre 2001 e 2008 – podem ser explicados, na avaliação do economista, apenas pelo aumento da renda do trabalho. "Tudo aponta mudanças na sociedade brasileira no sentido de que o valor do trabalho está aumentando", afirmou, disse o economista. "Esta é a década da redução da desigualdade de renda e do aumento do emprego formal." Neri aponta que o Bolsa Família, principal programa social do governo federal, contribuiu com 17% para a melhoria no índice Gini, usado para medir a desigualdade.

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Na avaliação da economista Sônia Rocha, a melhora na escolaridade do trabalhador começou a ter impacto na sua remuneração, o que não ocorreu, segundo ela, no início da década.