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Depois de trabalhar em diversas empresas e até para secretarias públicas em Belém (PA), o economista Celso Guimarães, de 65 anos, se viu desocupado pela primeira vez em quase 40 anos. Para preencher o tempo e complementar a renda da aposentadoria, que recebe há sete anos, ele montou um escritório em casa e abriu uma franquia da corretora de seguros Seguralta. “Queria uma atividade na minha residência e na qual eu fosse usado mais intelectualmente do que fisicamente”, conta.

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Após muita pesquisa de mercado para escolher a empresa, Celso fez um curso online e outro presencial antes de abrir a franquia, em agosto deste ano. O investimento de R$ 35 mil veio da venda de um carro e de um empréstimo consignado. “A única reserva que eu fiz para o futuro foi a contribuição para a Previdência Social”, diz ele, que atualmente recebe quatro salários mínimos. “Quis buscar um jeito de complementar a renda, que teve queda significativa.”

A busca por renda extra resultante do aprofundamento da crise econômica, somada ao envelhecimento do país e aos entraves na Previdência, tem levado cada vez mais idosos a se aventurarem num trabalho por conta própria, seja abrindo uma franquia, uma empresa ou montando um negócio informal.

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O avanço de iniciativas empreendedoras na terceira idade pode ser observado, por exemplo, nos números do Microempreendedor Individual (MEI) – uma opção relativamente desburocratizada e barata para se empreender. Segundo os últimos dados disponíveis compilados pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), de 2011 a 2015, a participação de pessoas com 50 anos ou mais entre os MEIs foi a única que subiu, de 14,6% para 17,9%. Só de 2013 para 2015, o contingente cresceu cerca de 90%, totalizando mais de 950 mil MEIs nessa categoria.

Uma das principais causas é a frustração dessas pessoas ao tentar reingressar no mercado de trabalho. “Com a queda da renda das famílias em meio à crise econômica, muita gente que antes não trabalhava agora precisa levar uma renda para casa”, afirma Alison Oliveira, economista e pesquisador da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe).

Os números são de fato expressivos. Segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), do quarto trimestre de 2014, último antes da forte deterioração do mercado de trabalho, ao segundo trimestre de 2016, a variação da taxa de desemprego entre os maiores de 59 anos cresceu 132%. Entre os jovens, a variação foi quase a metade: 75,3%.

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Outro fator mencionado por especialistas é o aumento da expectativa média de vida do brasileiro. “O cenário de idosos empreendendo deve se manter independentemente de crise, pois o País está ficando cada vez mais velho”, afirma Fabiano Nagamatsu, consultor do Sebrae-SP. “Temos ainda os impasses na Previdência, que deverá sofrer reformas, mobilizando quem não se planejou financeiramente”, completou.

Capacitação

Grande parte dos mais velhos que abrem o próprio negócio recorrem a uma área na qual já têm experiência. “Muitos que já fizeram carreira acabam se tornando mentores, consultores ou investidores”, afirma Nagamatsu. Há também os que não possuem muita especialização ou querem empreender em outra área e recorrem a cursos de capacitação técnica. “Observamos um grande aumento de pessoas da terceira idade em nossos cursos no Sebrae.”

Foi o caso da aposentada Rita Junck, de 51 anos. Ela, que trabalhava em um banco, foi dispensada em maio do ano passado. “Comecei a mandar currículos, mas não tinha nenhuma resposta”, conta. Para não ficar parada, ela resolveu comprar e revender alguns produtos, como calçados, óculos, lingerie e camisetas que ela mesmo personalizava com pintura. “Nunca trabalhei com vendas e achava que não tinha jeito, mas fiz alguns cursos no Sebrae e em julho comecei a vender as peças para amigos e amigos de amigos”, conta.

Foi dando certo. Hoje, ela vende os produtos na região onde mora, Parada Inglesa, zona norte de São Paulo, além de contar com uma lojinha online. Com a Sempre Bella by Rita Ju, a aposentada já tira cerca de R$ 2 mil. “A ideia é ter uma carteira de clientes boa para que eu consiga formar um comércio”, diz. “Foram 30 anos trabalhando para o sonho dos outros. Agora, tenho o meu próprio negócio e posso ficar mais tempo com a minha filha de 12 anos.”

Maricy Costa, de 61 anos, também migrou do banco para as vendas. Há um ano, ela conheceu o modelo de venda direta e hoje, além de comercializar produtos da Jeunesse, de cosméticos e suplementos alimentares, trabalha também no recrutamento da equipe, o que lhe rende uma comissão. “O que me atraiu foi a possibilidade de construir uma renda vitalícia que não dependa necessariamente de você estar lá todos os dias na porta do cliente”, diz. O investimento inicial é a partir de R$ 800.

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Atualmente, a aposentada tira cerca de R$ 1.800 por mês com o novo negócio, mas já faz planos com o crescimento. “No ano passado, atingi as metas de venda e ganhei uma viagem para os Estados Unidos”, conta. “Agora quero levar meu marido para conhecer a Disney, que antes não estava nos meus sonhos, mas agora que eu conheci, digo que todos têm de ir”, brinca.