Um apagão ordenado pelo Operador Nacional do Sistema (ONS) deixou sem energia 11 estados, de três regiões do país, e o Distrito Federal, no meio da tarde de ontem. Além do DF, o corte não programado atingiu Paraná, São Paulo, Rio de Janeiro, Espírito Santo, Minas Gerais, Goiás, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Rondônia. A interrupção teve início por volta das 15 horas e foi sendo normalizada gradativamente, encerrando-se por volta das 16 horas.
Inicialmente, o ONS não informou o motivo do desligamento, nem as áreas atingidas. Mais tarde, em nota oficial, afirmou que "restrições na transferência de energia das regiões Norte e Nordeste para o Sudeste, aliadas à elevação do consumo no horário de pico", motivaram as interrupções (leia mais nesta página).
Pelo menos 2.770 megawatts (MW) foram retirados do sistema elétrico do país durante a queda de energia. O número leva em consideração as cargas comunicadas pelas empresas AES Eletropaulo (700 MW), CPFL Energia (800 MW), Copel (320 MW), Light (500 MW), Elektro (200 MW), CEEE (100 MW) e Celesc (150 MW). O tamanho do corte, contudo, deve ser mais expressivo, já que várias empresas não divulgaram detalhes sobre a interrupção.
O consumo de energia tem batido recordes neste primeiro mês do ano. Na terça-feira da semana passada, o consumo nacional chegou a 85.391 MW às 15h38, índice muito próximo do recorde histórico de 85.708 MW, do dia 5 de fevereiro de 2014. Na semana passada, o ministro de Minas e Energia, Eduardo Braga, recomendou aos usuários que reduzissem o consumo de luz, mas descartou a necessidade de racionamento.
Situação crítica
Independentemente da explicação oficial do ONS, especialistas apontam uma conjunção de fatores que resultaram no apagão. O professor Adilson de Oliveira, do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), diz que o corte é resultado do baixo nível dos reservatórios de hidrelétricas aliado às altas temperaturas.
"O verão está muito forte e o nível dos reservatórios está em patamares alarmantes. Isto significa que as térmicas estão funcionando na máxima. E, com o calor, o consumo fica alto", afirma. Segundo ele, manter as termelétricas funcionando na máxima durante todo o ano é um risco. "Por isso, medidas desse tipo são tomadas. Às vezes a única forma de evitar apagões generalizados no país todo é fazer esses cortes temporários."
Para Roberto Pereira DAraújo, diretor do Instituto de Desenvolvimento Estratégico do Setor Energético (Ilumina), o episódio tem a ver com a crise hídrica. "Problemas estruturais causam outros problemas conjunturais. Quando os reservatórios estão baixos e você precisa que as turbinas gerem mais energia, elas não conseguem. Para resolver o problema, até para não consumir água em excesso, é melhor você cortar carga temporariamente", afirma.
Ambos consideram que as perspectivas para o setor elétrico não são boas. "Estamos andando muito próximo ao precipício. A situação estrutural é grave. Reservatórios não esvaziam apenas porque não entra água e sim também porque usaram demais", diz D´Araujo. "Se a temperatura continuar elevada e a chuva não vier, infelizmente fenômenos como este vão se repetir com alguma frequência neste ano", completa o professor Oliveira.
Passageiros ficam presos e andam por túneis do metrô
Folhapress
Com o apagão, passageiros que estavam no metrô de São Paulo chegaram a ficar 50 minutos presos dentro de um trem com ar-condicionado desligado na tarde de ontem.
A circulação da linha 4-amarela foi completamente interrompida por volta das 15 horas. O ar-condicionado dos trens foi desligado e os passageiros se viram forçados a acionar os botões de emergência. Muitos caminharam pelos túneis entre as estações.
No mesmo horário, a cidade de São Paulo registrou 36,5ºC, maior temperatura desde o início do verão, segundo o Inmet. "O trem parou no meio do túnel, tudo escuro, sem ar-condicionado. Estava muito lotado, e as pessoas começaram a passar mal. Demorou 50 minutos para voltar a andar", conta o auxiliar de cozinha Alex Gonçalves, 36. Ele mora em Osasco e, por causa da paralisação, demorou três horas para chegar em casa.