O dólar teve mais um dia de volatilidade nesta segunda-feira (16) e encerrou com leve queda ante o real, refletindo o quadro externo mais tranquilo e um respiro após as expressivas altas das últimas sessões, enquanto investidores digeriam os protestos contra o governo da presidente Dilma Rousseff no fim de semana.
Mas incertezas sobre a intervenção do Banco Central no câmbio e em relação à política monetária dos Estados Unidos limitaram o alívio. O Federal Reserve se reúne novamente nesta semana e a expectativa do mercado é que o banco central norte-americano deve sinalizar que a aguardada alta dos juros está próxima.
A moeda norte-americana recuou 0,14%, a R$ 3,2445 na venda, após fechar na máxima em quase doze anos na sessão passada, subindo mais de 2,5%. Nesta sessão, a divisa chegou a recuar mais de 1% e subir quase 0,5%. Segundo dados da BM&F, o giro financeiro ficou em torno de US$ 1,3 bilhão.
Segundo operadores, investidores se anteciparam às manifestações e correram para buscar proteção na sexta-feira, desmontando essas posições nesta manhã. Os gigantescos protestos de domingo ocupavam o centro das atenções, mas analistas não sabiam como avaliar o impacto para a situação política e econômica do Brasil.
“As consequências ainda são incertas, mas o ímpeto político continua sendo uma importante preocupação no Brasil, com a aprovação da presidente na mínima histórica e um quadro econômico duro, além das investigações em torno da Petrobras”, escreveram analistas do JPMorgan em nota a clientes.
Analistas do Eurasia Group defenderam que os protestos têm impacto “neutro” para as trajetórias de curto e longo prazo do Brasil, mas ressaltaram que os próximos meses devem ser palco de mais manifestações. “As maiores dificuldades do governo no curto prazo podem vir de trabalhadores que exigem benefícios específicos ou salários maiores”, afirmaram, em relatório.
FED e BC
No mercado externo, o dólar perdia terreno contra as principais moedas, puxadas pela recuperação do euro após flertar com a paridade na semana passada enquanto o Banco Central Europeu (BCE) dava início a seu programa de compra de títulos.
Nesta semana, investidores em todo o mundo focavam-se na política monetária do Fed, que divulga seu comunicado na quarta-feira. Espera-se que o banco central dos EUA descarte a promessa de ser “paciente” para elevar os juros, indicando que o aperto monetário pode ter início em breve.
“Embora os mercados claramente já tenham precificado boa parte dessa possibilidade, ainda acreditamos que a eventual decisão deve dar força à queda do euro em relação ao dólar que está guiando os mercados de câmbio de maneira geral”, escreveram estrategistas do Credit Suisse em relatório.
Essa perspectiva levou o banco Nomura a revisar suas projeções para as principais moedas da América Latina, mostrando um dólar mais forte. O banco agora espera que a divisa norte-americana encerre o ano cotada a R$ 3,40, contra estimativa anterior de R$ 2,90.
No front doméstico, crescia a ansiedade para saber se o programa de intervenções diárias do BC brasileiro no câmbio será estendido além deste mês, em meio à intensa volatilidade recente.
“Tínhamos dois vendedores importantes de dólares no Brasil: os estrangeiros e o BC. Agora, parece que não vamos ter mais nenhum dos dois”, disse o especialista em câmbio da corretora Icap, Italo Abucater.
Nesta manhã, o BC deu continuidade às rações diárias vendendo a oferta total de até 2 mil swaps cambiais, que equivalem a uma posição vendida de US$ 97,1 milhões. Foram vendidos 550 contratos para 1º de dezembro de 2015 e 1.450 para 1º de março de 2016.
A autoridade monetária também vendeu a oferta integral no leilão de rolagem dos swaps que vencem em 1º de abril. Até agora, foram rolados cerca de 39% do lote total, que corresponde a US$ 9,964 bilhões.