O presidente da Vale, Murilo Ferreira, admitiu em entrevista ao colunista do jornal O Globo Jorge Moreno, em seu programa “Preto no branco”, exibido na noite de domingo no Canal Brasil, que tem divergências com o presidente da Petrobras, Aldemir Bendine, quanto à forma como a estatal vem sendo conduzida. Mas negou que isso tenha motivado seu afastamento da presidência do Conselho da petroleira.
Ferreira está licenciado do cargo desde 14 de setembro. Na época, o executivo alegou motivos pessoais para o afastamento. A licença termina em 30 de novembro. Fontes do mercado dão como certo que ele não voltará para o comando do Conselho. Nos bastidores, o que se comenta é que o executivo deixou o cargo por discordar da gestão e por causa da falta de transparência da companhia.
“Evidentemente temos pontos de divergência e visões diferentes a partir de experiências profissionais também bastante distintas. Ele trabalhou a vida dele toda em banco. Eu, em mineração. Para nós, é a primeira vez em uma empresa de petróleo. Então, essas coisas são naturais e podem ser resolvidas em um debate”, disse Ferreira, ao ser perguntado se tinha restrição à forma como a Petrobras vem sendo conduzida pela nova diretoria.
O executivo negou que tenha saído contrariado do Conselho e afirmou que a razão para se licenciar do cargo foram as frequentes viagens que precisa fazer como presidente da Vale. “Na última semana de outubro, eu iniciarei uma viagem, mais uma para a Ásia. Ainda farei três viagens no período entre a última semana de outubro e a primeira de dezembro. Estando afastado do Brasil em um prazo de 40 dias, somente para a Ásia três vezes, tenho certeza de que minha contribuição seria diminuta, o que não é justo para uma empresa como a Petrobras.”
Ferreira também fez comentários sobre a composição dos ministérios do governo de Dilma Rousseff. Disse que “dessa vez, mais do que nunca, nós temos um ministério político” e que “o problema político precede a crise econômica que, portanto, precisa ser resolvida com mais rapidez”. O executivo disse ainda que o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, merece respeito e que é preciso “dar tempo ao tempo para ver a profundidade do seu trabalho”.
Apelo
Para o executivo, o ajuste fiscal tem um complicador: a queda de receita do governo. “Houve um colapso do preço das commodities (matérias-primas cotadas em Bolsa) e o Brasil é muito associado a isso, seja minério de ferro, níquel, óleo, açúcar ou café. (...) Na hora que as empresas perdem muito preço, pagam menos impostos. Pagando menos impostos, a receita do governo necessariamente cai. Infelizmente, um grande número de despesas está indexado. É muito difícil remover algumas delas. Com isso, o grau de liberdade é muito baixo. O Congresso Nacional tem que entender esse momento difícil, que não é só brasileiro.”
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