A atriz Jessi Kneeland, em cena de Lionshare: produção de Josh Bernhard, diretor de 25 anos, ganhou visibilidade na rede| Foto: Divulgação

Realidade

Gtalk, iPods, iTunes... Tudo na tela

A tecnologia está presente em todos as passagens de Lionshare, da mesma maneira que faz parte da vida de jovens da mesma geração que a dos personagens. Além da referência a sites de troca de arquivos, os personagens usam o Gtalk, iPods, o iTunes, copiam CDs, etc. O diretor Josh Bernhard diz que fez isso para representar a tecnologia do jeito que ela é usada. "Precisava mostrar de onde as pessoas realmente estão pegando as músicas e os programas de tevê. É tudo online. E nada disso é representado, como se fossem dois mundos diferentes: o que vemos na superfície – as gravadoras que vêm perdendo dinheiro – e as comunidades que se formam na internet para trocar os arquivos e falar sobre eles."

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A história de Nick é como a de muitos jovens adultos de hoje. Ele divide um apartamento bagunçado com o amigo Matty e gosta de filmes e músicas baixados da internet que sempre fazem parte dos assuntos das suas conversas. Apesar de dizer que é cineasta, não sabe o que quer da vida e se sente frustrado por não ter ideias nem para produzir o videoclipe da banda do seu outro amigo músico Bracey, prometido há meses.Pela internet ele conhece uma garota chamada Eva, que mostra para Nick as músicas de uma banda que encontrou no site de compartilhamento de arquivos Lionshare. À primeira vista os dois se dão muito bem, mas Nick vive a angústia de não ter uma relação mais próxima e profunda com ela.Nick é personagem do filme independente Lionshare, criado pelo jovem diretor americano Josh Bernhard, de 25 anos, e lançado na internet em streaming há quase um ano. Agora o filme está ga­­nhando visibilidade com anúncios nos sites de torrent PirateBay, Eztv e Mininova, desde que passou a ser distribuído gratuitamente em dezembro pelo Vodo.net.

O Vodo é um site que procura lançar, on-line, novos diretores de filmes e reunir interessados em doar dinheiro e apoiar esse tipo de produção, independente e gratuita. O serviço tem o apoio dos sites de torrent e é feito por Jamie King, criador dos documentários sobre a distribuição de arquivos na internet Steal This Film I e II. E Lionshare tornou-se, de longe, o filme de maior sucesso já lançado no Vodo, que tenta promover o modelo de negócios alternativo e aberto.

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Segundo Bernhard, Lionshare foi baixado mais de 1 50 mil vezes. O dinheiro arrecadado com as doações feitas pelo Vodo e com as vendas de DVDs já cobriu o baixo custo de produção – US$ 5 mil. "Não é muito dinheiro pela quantidade de gente que fez o download, mas o número de pessoas que estão assistindo já é muito maior do que eu esperava. E isso já é gratificante", disse Bernhard, em entrevista por telefone.

No filme, o personagem Nick - representado pelo ator Mike Pantozzi – passa por um momento semelhante ao que está ocorrendo com o Lionshare na web. Ele resolve colocar as músicas da banda do seu amigo no site fictício Lionshare. Poucos dias depois, o show de Bracey (vivido pelo ator, produtor e criador de animações do filme, Bracey Smith) está lotado de novos fãs, seguindo o mesmo roteiro de bandas que têm ficado famosas graças à internet. Inclusive, são músicas de artistas assim que formam a trilha sonora do longa.

Bernhard sabe que, ao colocar um filme online, ninguém é obrigado a pagar por ele, mas "muito mais pessoas viram o filme do que se ele tivesse sido distribuído de outra forma", disse. "Se um filme precisa ser visto para ser considerado um filme, para mim já é um sucesso."

Lionshare foi filmado com câmeras amadoras e tem todo um estilo de produção livre, mais um motivo para lançá-lo pela internet. Por isso Bernhard não acreditava que um distribuidor veria um va­­lor comercial nele. "O fato de falar da troca de arquivos online nem seria tanto um problema. Achava até que isso poderia atrair um distribuidor por causa da ironia de vender um filme que trata do assunto", disse.

Os diálogos entre personagens seguem a proposta: são bagunçados, exatamente como qualquer conversa real. O filme mostra até mesmo como um grupo de amigos começa a usar gírias internas que surgem das situações e brincadeiras mais banais.

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Música e cinema são a base das conversas. E a ideia do filme partiu exatamente disso. "Comecei a bolar a história pensando em mostrar um cara e uma menina e o modo que eles comunicam pela música", conta Bernhard. "É uma coisa interessante pensar que o modo que nós nos relacionamos com o mundo é pela música que ouvimos, pelos programas de tevê que vemos, etc. Nós nos comunicamos de acordo com a mídia que consumimos."