O preço do álcool vendido nos postos de Curitiba deve subir 10 centavos nesta semana, como reflexo de um aumento de 6,5% promovido pelas usinas produtoras na semana passada. Segundo o Sindicombustíveis (que representa os postos do estado), o preço do litro para o consumidor, atualmente entre R$ 1,42 e R$ 1,49, pode chegar a R$ 1,59. O presidente do sindicato, Roberto Fregonese, estima que a gasolina, que contém 20% de álcool, deve subir 2 centavos nos postos curitibanos na semana passada, o combustível era vendido entre R$ 2,39 e R$ 2,59. A gasolina deve esperar aumentos da mesma proporção no interior do estado, onde os combustíveis geralmente são mais caros.
O curioso é que os reajustes promovidos pelas destilarias nas últimas semanas aparecem num momento de crescimento da oferta o país está em plena colheita da safra 2006/07 de cana-de-açúcar e retração da demanda no mercado interno. Segundo a União da Agroindústria Canavieira de São Paulo (Unica), a venda de álcool das usinas para as distribuidoras recuou 13,6% desde maio, caindo de 1,1 bilhão de litros mensais para 950 milhões de litros. Isso porque, na maioria dos estados, quem tem carro bicombustível está optando por encher o tanque com gasolina.
Com o avanço da colheita da cana, o valor do álcool nas usinas já está 30% abaixo do pico registrado há quatro meses, no auge da entressafra. No entanto, o preço atual ainda é 46% superior ao cobrado em julho do ano passado, segundo o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea/USP). Na bomba, o álcool também está mais barato que em março, quando passou de R$ 2 por litro, mas ainda muito acima dos patamares de safras anteriores.
O superintendente da Associação de Produtores de Álcool e Açúcar do Estado do Paraná (Alcopar), Adriano da Silva Dias, diz que os recentes reajustes do álcool são reflexo da alta da gasolina. "Embora o álcool não esteja diretamente atrelado ao petróleo, quando a gasolina sobe você tem um espaço a mais para trabalhar seu preço." Dias também argumenta que as exportações do combustível estão aquecidas segundo a consultoria paulista ProCana, o Brasil exportará pelo menos 2,4 bilhões de litros nesta safra, mesmo volume do ano passado. "Mesmo assim, ainda existe uma demanda reprimida de 1 bilhão de litros, que não são exportados porque as usinas privilegiam o mercado interno, que está remunerando mais", diz Josias Messias, presidente da ProCana. "O frete para levar o álcool até os portos encarece a exportação."
No início do ano, analistas já adiantavam que, embora o combustível fosse ficar mais barato entre abril e dezembro, época da moagem da cana, os preços não recuariam aos mesmos níveis observados nos últimos anos. O mercado, segundo eles, ficou muito aquecido com o sucesso dos carros bicombustíveis que já são 76% dos automóveis novos vendidos no país e com o aumento das cotações do álcool e, principalmente, do açúcar no mercado internacional. A produção nacional pode demorar dois ou três anos para se adaptar a este novo cenário, apesar da expectativa de um crescimento de 9% no volume produzido nesta safra.
"As usinas estão cumprindo seu papel", avalia Josias Messias, da Procana. "Neste ano, 20 destilarias foram inauguradas, e a safra está mais alcooleira que no ano passado." Segundo o consultor, 53% da cana colhida atualmente é utilizada para a produção de álcool, e 47% para açúcar. No ano passado, essa relação foi de 51% e 49%, respectivamente.